Falando em livros, algo me acomete na madrugada. De perceber o livro acabando, e a narrativa num crescente sem precedentes. Quase uma desfeita do autor, nem mesmo deixando capítulos ruins no meio, jogando alguma preguiça no terreno. E de repente o casal que tanto lhe apeteceu se desloca para a derradeira... puxa, lá se vai uma boa companhia.
E não digam que reler ajuda, ou auto-ajuda, pois é apenas zerar a máquina e girar até o mesmo derradeiro precipício de decisões e lugares transitórios. Tantas páginas e detalhes contidos num conjunto mais ou menos delimitado, que bate uma tristeza assim de se pegar no meio da noite lendo-o de trás pra frente e não o contrário como supostamente nos faria felizes, trapaceando com o tempo e com as decisões apaixonadas das personagens.
Até mesmo McCord. Bate uma saudade de sua descrição, de sua conversa raivosa naqueles bares decadentes, imemoriais, ao menos para nós, citadinos cinzentos.
E de ver, na página 174, sem lembrar de ter lido antes, a primeira indicação dos olhos verdes de Charlotte, o que me faz pensar justamente no post quase-abaixo deste quando se refere ao delay descritivo. Diria que imaginei castanhos, mas quando lido
verdes o próprio castanho muda de cor, uma correção na memória, ativa, como se de repente sempre fôssemos felizes na infância, sempre vitoriosos com as mulheres. Um leve deslize do tempo, paradoxal, que desmancha o olho castanho e esverdeia alguma coisa mais importante. Talvez até mesmo o autor tenha dito castanho no início do livro, e a culpa seja inteiramente dele. Mas não importa. Quando seguimos o fluxo (quando o fluxo menstrual se torna elemento existencial-estrutural de um modo de escrever) não importa a ordem, mas como ela se desordena; sim, a ordem dos fatos altera o produto, mas triste mesmo é acabar um livro explosão.
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