Faz algum tempo que quero falar disso, cerca de vinte minutos, mas queria escrever sobre o tema no BrOffice e não o tinha instalado. Por outro lado, foi uma desculpa válida para enfim instalá-lo.
O fato: li um texto de um filósofo sobre toda a confusão em torno do possível fechamento, por motivos econômicos, do cinema HSBC Belas Artes, em São Paulo; a questão do papel estatal na pendenga etc.
Resumidamente, o texto insinuava a existência de uma dicotomia de posições sobre a questão, colocando de um lado os defensores de que o mercado deve prevalecer no caso (ou seja: um cinema de salas vazias não deve continuar aberto) e de outro os que acreditam que as contas públicas devem atuar na cultura. A argumentação não seguia por este lado, mas sim em que Enfim, leiam-no aqui: http://meocaso.wordpress.com/2011/02/14/cinema-mercado-e-outras-milongas/ (e lá se vai o suspense).Pois bem discordo de quase tudo o que foi dito, então gostaria de tecer e teço os seguintes comentários:
Primeiro, os cinemas de rua (e até o Belas Artes) são economicamente viáveis, tanto que existem e recebem patrocínios de bancos, de livrarias, do raio que o parta. Ah, mas eles precisam de patrocínio, dirão. Sim. E os conseguem. Ou seja: economicamente viáveis. E até mesmo o Belas Artes, polêmica à parte, consegue e conseguiu patrocínio. Ou seja: a discussão não é tanto sobre a manutenção do cinema, mas sim sua manutenção naquele ponto específico, o que já demonstra que se trata mais de preciosismo do que de verdadeiro amor à cultura, essa linda.
Segundo, é mais democrático preservar o interesse duns poucos (sejam eles movidos por amor a isto ou àquilo) do que atender aos clamores populares exercidos na forma de procura e demanda, porque democracia não é mais atender às maiorias, mas sim permitir que as minorias subsistam enquanto tais. É pra isso que o Estado serve (e, sim, para manter a cultura, ainda que seja cultura marginalizada ou elitizada ou somente atraente a poucos, o que é outro problema). E, aliás, não existe no mundo coisa mais bonita do que a cidade inteira pagar para que eu possa ver filmes numa sala vazia. A cidade, nada. O país.
Defendo, então, que o Estado se meta – quer por tombamento, quer por auxílio monetário – no direito de o Belas Artes ficar ali? Não, não defendo. Gostaria, até, se me pedissem a opinião, que ficasse, mas não é direito e não tem cabimento o Estado se meter no que, na verdade, é um contrato de aluguel entre duas partes privadas e plenamente capazes.
Que o Estado cuide da manutenção da pluralidade cultural, claro, mas que não se meta nos contratos de aluguéis alheios. Porque é isso o que ocorreu: um contrato de aluguel que não se quis renovar. Não foi uma violência contra o Cinema, assim, em maiúsculas, como se quis fazer crer, não foi um ato de arbitrariedade e violência. Foi um termo de aluguel que venceu e não se renovou tempestivamente.
Mas o que mais me incomoda é que existe uma coisa muito importante sobre o Belas Artes que ninguém diz: ele não é um bom cinema. As salas são ruins. A pipoca não é grande coisa e é servida num recipiente de papelão que se abre embaixo e faz cair tudo. Eles exibiram Medos Privados em Lugares Públicos por mil anos (e é um filme chato, ruim e raso).
Está bem, eles têm uma seleção de filmes variada, indo dos blockbusters a, bem, Medos Privados em Lugares Públicos. Mas outros cinemas também têm e não motivam esse auê todo. A Paulista está lotada de cinemas exibindo filmes europeus e asiáticos e brasileiros e, de um modo geral, são cinemas melhores, mais modernos e com pipoca mais gostosa (ou pelo menos servida em saquinhos de papel sem furos).
Com todo o respeito, só o Noitão, mesmo, é que me faz ir até o Belas Artes. E se houvesse noitão no Espaço Unibanco, ali na Augusta, por exemplo (como já houve), aposto que seria melhor.