20100521

À internet, eu devo a chance de ter conhecido centenas de coisas com as quais eu jamais teria contato de outra forma. E isso nem sempre é uma coisa boa. Claro que eu só tenho a agradecer por conhecer coisas como o funk They Are Taking the Hobbits to Isengard, ou o vídeo de bukkake com uma apresentadora de jornal que continua a ler as notícias mesmo encharcada em porra, mas nem tudo são flores nesse mundinho virtual.

Noutro assunto, eu li, já, Frankenstein, há alguns bons anos. Recentemente, comecei a reler o livro, dessa vez em inglês, porque ganhei uma cópia de um amigo. Só que acho que eu nunca tinha realmente entendido qual era a do livro. Não de verdade. Ok, eu imagino que uma criatura feita com pedaços tirados de vários cadáveres seja mesmo uma visão um pouco desagradável, especialmente para os desavisados que não sabiam da história do “monstro”, mas nada parecia justificar a reação exagerada do Vitinho Frank que, após dias de trabalho incessante, fica escandalizado com sua própria obra, sai correndo, tranca-se no quarto e passa uns bons meses com febre.

Quero dizer, ainda que visualmente a coisa não tivesse ficado muito bonita, ele deveria saber que havia feito um trabalho grande, provavelmente o maior da história humana. Ele havia revertido a morte, for crying out loud! Em nenhuma das leituras me pareceu condizente alguém com conhecimentos científicos ficar tão perturbado assim com o resultado (bem sucedido!) de seu trabalho, mas é aí que entra a internet.

Porque dia desses, engajado em uma dessas muito produtivas discussões na internet, eu me deparei com um vídeo cujo título no Youtube era “Surviving without a body”. Pois é. Trata-se de um experimento, aparentemente feito por uns russos, em que uma cabeça de cachorro, ainda viva, foi conectada a uma máquina que fazia circular o sangue (inclusive com a troca de sangue arterial por venoso) e a manteve viva, segundo o vídeo, por algumas horas.

O vídeo é bem antigo e talvez ética fosse ainda um conceito meio nebuloso, sei lá. Eu sei que os caras testam a reação do cachorro sem cabeça – ou, melhor, da cabeça sem cachorro – a luz, cheiros, sabores etc. O cachorro pisca, funga, lambe o focinho. E meu Deus (a referência a Ele é pertinente), eu nunca vi nada tão perturbador. Quero dizer: é uma cabeça, só! Caída em uma mesa, solta, sem nada. Foi um negócio que mexeu demais comigo.

Eu sei, porque li Frankenstein, que descrever um experimento desses não é suficiente para causar muito espanto no leitor. E eu sei bem, também, que a chance de o vídeo ser falso é considerável. Mas não importa.

O negócio é que, vendo aquilo, eu entendi o dr. Frankentein quando ele fugiu da sua criatura. Não era medo de um monte de carne costurada. Era ele percebendo que tinha feito algo que um ser humano nunca deveria fazer, que ele tinha se metido onde ninguém devia se meter. Eu entendi, porque foi o que eu senti vendo uma cabeça sem corpo lamber os beiços.

7 comentários:

  1. para p/ pensar que tem gente que sente a mesma coisa com punheta

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  2. Mas tudo isso é uma grande metáfora para a punheta!

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  3. Nossa, deve ser horrível a vida dessa gente...

    (E sobre tentar driblar a morte, não que tenha muito a ver, mas...:

    "Haver injustiça é como haver morte.
    Eu nunca daria um passo para alterar
    Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.
    Mil passos que desse para isso
    Eram só mil passos." )

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  4. A vida de que gente? Do Vitinho Frank, do monstro, do cachorro, dos russos, dos punheteiros ou dos que acham que a punheta é um território que não deve ser penetrada?

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