muitos jovens literatos costumam me enviar perguntas sobre o que fazer
com um personagem, uma vez concebido. questões éticas sobre os direitos
ou vontades desse personagem parecem turvar um pouco a visão criativa de
alguns colegas. outros se encontram simplesmente paralisados ante a
infinitude de possibilidades para cada personagem, e acabam vendo sua
estória definhar entre episódios cotidianos totalmente desinteressantes e
situações absurdas que parecem ser a única maneira de empuxar a
narrativa. nada disso, no entanto, importa; desde que seu personagem
seja fera, BEM fera. no momento em que vivemos, o da pós-narrativa
neoantidramática, pode-se dizer que toda a nossa energia criativa deve
se concentrar na criação do personagem. então ele existe (como imagem, acima de tudo) e já não é mais preciso contar o que acontece com ele. ele de fato não precisa fazer nada - é claro, desde que ele cumpra sua função primordial: a de ser
muito fera. com isso feito, basta a você, criador antenado com seu
tempo e sua realidade, presentear o mundo com sua criação. espalhe seu
personagem por aí! coloque-o em todos os lugares, absolutamente todos!
ele merece viver por si só, longe do mofo da velha narrativa, longe de
situações mal-ajambradas e descrições desnecessárias. deixe-o viver, e
ele viverá. talvez ele morra, mas se isso acontecer é porque ele não é
fera o suficiente (lembre-se: essa é a única coisa que importa). só
assim seu sucesso será pleno.
20140730
criei um personagem, e agora?
isto é:
estudo de personagem,
fera,
H.Chiurciu,
literatura,
loko,
teoria
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