20140730

criei um personagem, e agora?

muitos jovens literatos costumam me enviar perguntas sobre o que fazer com um personagem, uma vez concebido. questões éticas sobre os direitos ou vontades desse personagem parecem turvar um pouco a visão criativa de alguns colegas. outros se encontram simplesmente paralisados ante a infinitude de possibilidades para cada personagem, e acabam vendo sua estória definhar entre episódios cotidianos totalmente desinteressantes e situações absurdas que parecem ser a única maneira de empuxar a narrativa. nada disso, no entanto, importa; desde que seu personagem seja fera, BEM fera. no momento em que vivemos, o da pós-narrativa neoantidramática, pode-se dizer que toda a nossa energia criativa deve se concentrar na criação do personagem. então ele existe (como imagem, acima de tudo) e já não é mais preciso contar o que acontece com ele. ele de fato não precisa fazer nada - é claro, desde que ele cumpra sua função primordial: a de ser muito fera. com isso feito, basta a você, criador antenado com seu tempo e sua realidade, presentear o mundo com sua criação. espalhe seu personagem por aí! coloque-o em todos os lugares, absolutamente todos! ele merece viver por si só, longe do mofo da velha narrativa, longe de situações mal-ajambradas e descrições desnecessárias. deixe-o viver, e ele viverá. talvez ele morra, mas se isso acontecer é porque ele não é fera o suficiente (lembre-se: essa é a única coisa que importa). só assim seu sucesso será pleno.



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