muitos jovens literatos costumam me enviar perguntas sobre o que fazer
com um personagem, uma vez concebido. questões éticas sobre os direitos
ou vontades desse personagem parecem turvar um pouco a visão criativa de
alguns colegas. outros se encontram simplesmente paralisados ante a
infinitude de possibilidades para cada personagem, e acabam vendo sua
estória definhar entre episódios cotidianos totalmente desinteressantes e
situações absurdas que parecem ser a única maneira de empuxar a
narrativa. nada disso, no entanto, importa; desde que seu personagem
seja fera, BEM fera. no momento em que vivemos, o da pós-narrativa
neoantidramática, pode-se dizer que toda a nossa energia criativa deve
se concentrar na criação do personagem. então ele existe (como imagem, acima de tudo) e já não é mais preciso contar o que acontece com ele. ele de fato não precisa fazer nada - é claro, desde que ele cumpra sua função primordial: a de ser
muito fera. com isso feito, basta a você, criador antenado com seu
tempo e sua realidade, presentear o mundo com sua criação. espalhe seu
personagem por aí! coloque-o em todos os lugares, absolutamente todos!
ele merece viver por si só, longe do mofo da velha narrativa, longe de
situações mal-ajambradas e descrições desnecessárias. deixe-o viver, e
ele viverá. talvez ele morra, mas se isso acontecer é porque ele não é
fera o suficiente (lembre-se: essa é a única coisa que importa). só
assim seu sucesso será pleno.
20140730
20140723
20140718
aviso de notoriedade pública
a República está recebendo comentários misteriosos de um anônimo que gosta de se divertir muito.
as medidas cabíveis serão tomadas apenas quando nossos profissionais de plantão forem notificados de um possível final da diversão supra-citada. outras questões deverão ser tratadas de acordo com o protocolo costumeiro.
as medidas cabíveis serão tomadas apenas quando nossos profissionais de plantão forem notificados de um possível final da diversão supra-citada. outras questões deverão ser tratadas de acordo com o protocolo costumeiro.
Att.
secretaria interna de avisos importantes d'A República
20140717
20140715
carta-aberta ao tempo ou lamento por heróis
"vozes sem dentes gargalham
são os ecos do falecido
sorriso esfolado disforme no ar.
Como dançar sobre pedra escavada?
A estrada feita de buracos navega rumo ao fundo
O ar tem gosto de parede. Não
posso sentar por um instante e o som das bombas.
Escrever com uma mão e martelar com a outra
as intermináveis escadas de aço
que se deitam sobre corpos de pó.
Eu olho e só vejo nuvens de areia.
As línguas açucaradas que sussurram jasmins
Jazigam quem pára pra ouvir.
Eu corro carregando centenas."
(o labirinto bloqueado cheio de cabeças tagarelas, todos andando de um lado pro outro trombando e tropeçando, a eternidade contida num instante de dor e choque, os olhos assustados de quem se vê no outro, um tatear desesperado à procura dos próprios pés, o medo de não ouvir os gritos de tanto que se ofega, o saber de que no coração do monstro corre sangue)
"Eu me desprego das metáforas perfurantes
eu sou grito e lança.
Quero respostas de quem é só esguio.
Quero pão, água, mapas.
Vocês não mais falarão
enquanto dor assim."
(a sina do herói em ser narrativa, eterno movimento que é só torpor, a sua boca só despeja os poemas dos outros, os seus brados têm outros mestres, os seus punhos são de marionete, choram por ti multidões enquanto corres em página fosca, chutando portas que darão em portas, gritando signos que são sua morte, rompendo nós que se reapertam, jamais capaz de olhar para o céu:
Ele plana
tão coeso
deslizante
no papel.
Procura chaves
não forjadas
e o fogo do céu não desceu.)
"Eu corro por todos
e o meu povo sou eu."
ele morre sozinho
sem nunca entender.
sem nunca entender.
20140713
20140708
A ARANHA:
(...)
A vida é dura, os corvos não esperam,
ouço os sinos da noite, vejo os funerais,
me sinto viúva, regresso à Inglaterra,
a aranha é o mais triste dos seres vivos.
A vida é dura, os corvos não esperam,
ouço os sinos da noite, vejo os funerais,
me sinto viúva, regresso à Inglaterra,
a aranha é o mais triste dos seres vivos.
[C. Drummond de Andrade - "Noite na Repartição"]
20140704
20140701
Re: Círculo de Fogo (crítica)
eu decidi escrever uma resposta decente explicando porque eu achei o "círculo de fogo" uma puta duma bosta. basicamente eu vi o filme num computador, com um som ruim e meio de mau humor. mesmo assim, acho que o filme poderia ser melhor apreciado nessas condições se ele não fosse tão lixo.
mas daí, como não tenho muito mais a dizer, resolvi compartilhar com vocês essa pintura do Jean Bellegambe, painel central do tríptico "Sangue de Cristo", porque achei muito pirante essa mistura de sangue e leite-de-peito que os anjos dão pros mortos beberem.
mas daí, como não tenho muito mais a dizer, resolvi compartilhar com vocês essa pintura do Jean Bellegambe, painel central do tríptico "Sangue de Cristo", porque achei muito pirante essa mistura de sangue e leite-de-peito que os anjos dão pros mortos beberem.
é isso galera, flw ;*
isto é:
cristo,
devia chamar Pacific Ruim,
H.Chiurciu,
pacific rim
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