20140430

da vida

a vida é uma caixinha
bem fechada

20140426

mentira branca



num espaço em branco se encontra uma mentira terrível
assim:

uma promessa incompleta que sugere – e até urge – pelo seu fim
perfeito

a expectativa do espaço vazio, no entanto, a expectativa de um vetor para
frente

a espera como se a espera não fosse apenas a falsa concretização da esperança
burra

um limite inesperado que está na própria superfície do branco, uma alvura ilimitada
contraditória

suposta neutralidade que tende para o azul, para o violeta, às vezes mesmo para o verde
horrível

o verde que sempre sugere mancha, abundância de sujeira viva, opaca, patética em si mesma
sempre

um traçado que só pode traçar-se o próprio, só pode diluir a brancura do que talvez esteja vindo
nada.

20140424

ZAMBRA, Alejandro - "A Vida Privada das Árvores", pg. 76:


"Como representar o que acontece enquanto conversam, o que deixam de dizer um para o outro, aquele fundo de censuras tímidas, de minúcias, que se agita enquanto falam? Como iluminar as áreas que ambos decidiram deixar às escuras?"




20140419

Jesus Robotrônico contra as terríveis Pôncias Piratas




PODERÁ NOSSO HERÓI E SALVADOR RESISTIR A MAIS ESTE DESAFIO???


FIQUEM LIGADOS PARA A NOVA TEMPORADA DE JESUS ROBOTRÔNICO, DE VOLTA À SUA TV A PARTIR DESTE DOMINGO!

20140416

nascimento do brasil





ora, vocês se enganaram, diziam os índios a Cabral.
Os portugueses nada entendiam; não falavam a língua dos índios. Cabral sentia fortes dores no pé do estômago, e por isso queria sair rápido de sua caravela. Os nativos tentavam explicar que ali não era nenhum paraíso, que não havia ouro, que eles não davam conta do trabalho, que aquilo tudo era um absurdo, Tupã, ilumine essas cabeças brancas! Eles tentaram de tudo. Ninguém entendeu. Cabral começou a ficar de mau humor por conta das dores, desceu do barco irritado; um índio tentou acalmá-lo, eles brigaram na areia - uma confusão só, até que Cabral pegou sua arma a atirou no peito do inimigo - esse selvagem queria meu mal! 

20140414

lorota fotográfica, XII


não sou covarde, já tô pronta pro combate
keep calm e deixa de recalque

20140410



ora, vocês se enganaram, dizia Eva, insistentemente.

mas Jesus não ligava muito pro que estava pra acontecer; saindo dali, tiraria umas boas férias e só queria saber de terminar logo o expediente. repetia os gestos ensaiados cuidadosamente, como uma valsa de mecânica quântica. qualquer passo em falso e ele já era.
já o Adão, pobre coitado, acordou no dia seguinte e não entendeu nada. 
como se não fosse o bastante, ainda ficou três semanas sem conseguir jogar futebol.


20140406




ora, vocês se enganaram, dizia o homem, insistentemente.
mas os caçadores não falavam, agiam, parecendo saber exatamente o que queriam,
como atores em movimento produzindo acidentes reais.



alô, edsom

movimento
ir e voltar, carregar uma valise, sentar e depois levantar, derramar a água sobre o café, etc.
movimento
avançar, retroceder, mudar de lugar, perder a hora, achar que conseguiu, se enganar, etc.
movimento
partir em uma estrada comprida, não voltar por muito tempo, assistir as ondas se afastarem, etc.
movimento
virar-se na cama, pensar no dia seguinte, tomar muitos goles d'água ao longo da noite, etc.




mando notícias como quem grita do alto de um morro
ouço os uivos de um lobo faminto, admito que faz frio
mas não retrocedo!, que daqui até o raiar do dia
a luta se faz no sangue, ou então não se faz nunca.

20140402

 


ora, vocês se enganaram, dizia a moça, insistentemente.
tanto e tanto que os caçadores já tinham a certeza de sua inocência,
mas tal insistência os incomodou tanto e tanto que passou a ser motivo
para que eles insistissem em ouvi-la insistir como se isso os fizesse melhor,
como dramaturgos que corrigem os pequenos acidentes das coisas reais.