leio no carro mais um conto de murakami: o protagonista trabalha num banco coletando dívidas. frequentemente, os personagens vão para as mais diversas regiões do japão. não sei se existe rigor no modo como murakami os representa, mas imagino que sim.
li no carro porque aconteceu um acidente na av. brasil. levei pouco mais de uma hora até o trabalho. dois carros não deram passagem para o carro do resgate. um deles, a meu lado, era dirigido por um homem de terno, que gesticulou nervoso ao resgate: "passa por cima!".
para alguém que está dentro do círculo "artístico", com amigos "artistas" (pessoas que orbitam em torno da arte, de seus sistemas e problemas), um homem que trabalha num banco é tão "outro" quanto os índios da floresta atlântica (eles ainda sobrevivem).
como é possível falar sobre os "outros" sem se sentir simplificador, mentiroso, corajoso de um jeito burro?
já vi algumas pessoas surpresas porque minha namorada é farmacêutica, está em outro mundo. eu, pelo contrário, fico surpreso que as pessoas fiquem tranquilas num ambiente como a abertura de uma exposição.
quando estive em berlim, com henrique rocha, fui a algumas festas com ele, conheci alguns de seus amigos. todos eles estudavam coisas "outras": engenharia, administração, economia, as ciências que podem dar dinheiro etc. ninguém se interessava em ouvir nada sobre cinema ou qualquer coisa de meu mundo.
quando estive em bruxelas, com henrique chiurciu, quase todos que conhecemos não paravam de falar em cinema e na cena local e em suas notas no trabalho prático de conclusão do mestrado. de 0 a 20, 15 era uma nota alta e isso parecia fazer toda diferença para eles.
um filme (uma carreira, uma vida) medido por uma nota de 0 a 20.
Acho que eu deveria comentar alguma coisa, aqui.
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