oito mil, vezes 12
noves fora
mais o que ganhamos
menos os filmes que fizermos
sobe três
e o desemprego só cai.
20130131
20130130
nostalgia
quando eu era criança, tinha um sonho recorrente.
sonhava que era "adulto" - chuto na casa dos 30, era alto e me vestia de forma séria e tudo.
eu estava investigando alguma coisa (mais uma sensação do que uma certeza) e andava pelo meu bairro. as ruas estavam todas vazias, a maioria das lojas estavam fechadas ou tinham falido; talvez eu estivesse perseguindo alguém. eu sei que eu entrava em uma padaria, que existia no caminho da minha casa pro colégio.
lembro que era perto de uma escola pra surdos, porque sempre tinham jovens conversando por sinais na frente dela. meu pai fazia uma piada meio horrível, falando que os donos da padaria tinham reclamado no colégio por que eles faziam muito barulho com aquela conversa toda.
no sonho a padaria já tinha falido, estava cheia de entulhos e completamente escura. eu entrava com muito cuidado, perseguindo alguém que tinha se escondido ali. aí essa pessoa atirava em mim.
e eu morria.
.
.
.
passei boa parte da minha juventude recontando esse sonho, e brincando que eu iria morrer ali, um dia. eu só entrei lá uma vez, com um amigo, e tomamos um suco de limão. o lugar era bem decadente, com uns painéis de madeira e fotos desbotadas de milk-shakes fictícios.
uns anos atrás a padaria fechou.
aí reformaram ela toda, e hoje em dia tem uma oficina de carros no lugar (especializada em instalação de som, se não me engano).
nada a ver.
sonhava que era "adulto" - chuto na casa dos 30, era alto e me vestia de forma séria e tudo.
eu estava investigando alguma coisa (mais uma sensação do que uma certeza) e andava pelo meu bairro. as ruas estavam todas vazias, a maioria das lojas estavam fechadas ou tinham falido; talvez eu estivesse perseguindo alguém. eu sei que eu entrava em uma padaria, que existia no caminho da minha casa pro colégio.
lembro que era perto de uma escola pra surdos, porque sempre tinham jovens conversando por sinais na frente dela. meu pai fazia uma piada meio horrível, falando que os donos da padaria tinham reclamado no colégio por que eles faziam muito barulho com aquela conversa toda.
no sonho a padaria já tinha falido, estava cheia de entulhos e completamente escura. eu entrava com muito cuidado, perseguindo alguém que tinha se escondido ali. aí essa pessoa atirava em mim.
e eu morria.
.
.
.
passei boa parte da minha juventude recontando esse sonho, e brincando que eu iria morrer ali, um dia. eu só entrei lá uma vez, com um amigo, e tomamos um suco de limão. o lugar era bem decadente, com uns painéis de madeira e fotos desbotadas de milk-shakes fictícios.
uns anos atrás a padaria fechou.
aí reformaram ela toda, e hoje em dia tem uma oficina de carros no lugar (especializada em instalação de som, se não me engano).
nada a ver.
13. — moralistas —
Perder, sempre.
PROJETO
Criar uma coletânea de projetos a não serem realizados.
Fingir realizá-los.
PROJETO
Evitar imperativos.
Adotar infinitivos.
Sublinhar substantivos.
PROJETO
Tomar ar antes de falar.
PROJETO
Ocupar.
isto é:
caderno despedida,
factível,
moral,
projeto,
ricardo miyada
20130129
20130125
20130121
tomei café pela manhã
corretamente
nunca acorda nem dorme
está maluco
surreal
toda alterada
fora do lugar
hoje
a gravidade
um amigo me disse que
ontem
senti a mesma coisa
está maluco
meu amigo
minha percepção sobre o tempo
meio estranho
e eu também
está meio estranha
sua impressão sobre o tempo
sinto meu corpo também
está toda alterada
20130119
explicações desnecessárias
algumas vezes me sinto (como qualquer um de nós, acredito) muito distante do mundo real, o tridimensional completamente renderizado e cheio de sensações e tal.
daí eu saio com alguma desculpa, tomar um mate quente, ou acender um cigarro, ou qualquer coisa do tipo; só pra que eu possa andar um pouco e me forçar a ficar parado, olhando pro céu ou pro mato ou o gato cheirando o mato e olhando pro céu, coisas assim. nada punhético, por favor não me entendam mal!
é só isso, mesmo.
daí eu saio com alguma desculpa, tomar um mate quente, ou acender um cigarro, ou qualquer coisa do tipo; só pra que eu possa andar um pouco e me forçar a ficar parado, olhando pro céu ou pro mato ou o gato cheirando o mato e olhando pro céu, coisas assim. nada punhético, por favor não me entendam mal!
é só isso, mesmo.
20130118
180
É muito fácil determinar que oitenta
porcento (estou sendo modesto) das pessoas no Parque da Aclimação
pertencem a uma mesma classe social, oitenta porcento daqueles homens
sarados (eu não incluso) e daquelas mulheres gostosas poderiam se
encontrar ali e formar casais com gostos e hábitos absolutamente
homogêneos, imagino que o façam, e lá, ao contrário do que
ocorreria no Ibirapuera, seria possível dizer que quase todo mundo
mora ali por perto, o que é conveniente, e é até possível apontar
para alguém com 66% de certeza e determinar se a pessoa é ou não
vegetariana (o que significa que duas destas três: a menina pintando
o lago com aquarela, a senhora andando de sandália, o cara cuja
camisa estampa um mapa da devastação da mata atlântica) e se ela
gosta de rock (o cinquentão de camiseta preta) ou sertanejo (o cara
com pinta de rico e sua namorada loira). É tão fácil, na verdade,
que eu pensar em mim como estrangeiro...
Tenho vontade de fumar. Não cigarro,
porque o cigarro é do mal, mas um charuto seria legal, acho. Fumar
me lembra uma menina que diz que fuma porque quer viver pouco, não é
bem isso o que ela diz, é mais ou menos isso, e manifesta em tudo
seu autodestrutismo e ela é tão sozinha que é fácil eu me
sensibilizar, é fácil eu pensar nela e querer muito chorar.
Enquanto eu corro pelo Parque da Aclimação, eu, que nunca corri, e
agora corro, e o relógio no meu pulso apita meu coração batendo
cento e oitenta vezes por segundo, me parecem muitas vezes, isso,
cento e oitenta, eu que ando de bicicleta, que uso camisetas de times
de futebol e seleções estrangeiros e do Corinthians e da
Portuguesa, com shortinhos, eu que tenho uma calça colada dessas
para andar de bicicleta, eu que a uso, mas penso que um charuto seria
legal e penso que meu coração bate cento e oitenta vezes por
segundo enquanto eu corro e penso que quero correr uma maratona, mas
a primeira pessoa que correu uma maratona, a pessoa que criou a ideia
de uma maratona, ela morreu logo depois e eu queria fazer isso e
corro, cento e oitenta vezes, e eu penso em formas alternativas de
usar o tabaco (penso em vocês) e penso na menina e na forma como ela
fala da vida dela, ela parece feliz, mas se machuca e eu que também
sou feliz acho tão fácil pensar nela e ter vontade de chorar.
Eu acho lindas as outras pessoas, quem
pode culpá-las, elas estão correndo ou andando porque querem viver
mais e quem pode culpá-las, elas são ricas e moram ali perto e
podem a qualquer momento encontrar um parceiro ali mesmo no parque,
talvez seja também vegetariano (há 66% de chance de acertarmos) ou
goste também das coisas de que nós gostamos, e então poderemos
amá-los e viver para sempre, correr para sempre e talvez eu pense
para sempre que uma menina que também é rica (digamos), que também
poderia estar naquele parque, se morasse perto, que ela fuma para
morrer mais cedo, parece o contrário do que eu estou fazendo ali, a
cento e oitenta batimentos por segundo, mas é fácil pensar nisso e
querer chorar. É tão fácil, na verdade, que eu pensar em mim como
estrangeiro...
20130116
parte 1: nosso protagonista vai à liberdade
Fui a um restaurante chinês na Liberdade, sozinho, em homenagem aos tempos na Bélgica, onde comia quase todos os dias noodles. Tenho saudades, especialmente, dos nouilles aux huit quelques choses, já me esqueci o nome do prato, mas o gosto ainda está aqui. Noodles fritos, noodles ensopados, que maravilha! É o que mais me faz falta.
Como sempre (aos fins de semana), o restaurante estava cheio, e a atendente me perguntou num sotaque intenso se eu aceitaria me sentar com outras pessoas, afinal, estava sozinho. Era almoço. Disse que sim, e me sentei, tentando passar despercebido. Era uma mesa de jovens (5 deles, mais ou menos da minha idade), o suficiente para encher a mesa redonda, mas não lotá-la. Pareciam haver se sentado havia pouco, apontavam para os cardápios e tentavam adivinhar o que as descrições dos pratos significavam, especialmente as que não tinham tradução ("Será que isso é cachorro?! Hahahaha!").
Peguei também meu menu e o encarei, sabia que queria nouilles sautées au canard, imaginava os patos assados nas vitrines e aquele frio úmido e as bolhas no meu pé e o tabaco enrolado e era isso que eu precisava. Sabia que aquele prato não existia ali, ainda assim o desejava intensamente. Folheei bem, um pouco desanimado, lembrando da tesoura que havia comprado pro meu pai na Ikesaki.
O grupo de minha mesa se cansou de brincar com o nome das coisas e começou a decidir seriamente o que escolheriam. Embora tendessem principalmente para os frutos do mar, o consenso não era fácil. Uma das meninas (só os vi com atenção quando ouvi sua voz, eram 3 homens e 2 mulheres, 3 moços e 2 moças, 3 meninos e 2 meninas) perguntou se alguém queria dividir os pãezinhos ao vapor recheados de lombo de porco.
Ninguém se animou.
Falei para mim mesmo que era bom, que esses pãezinhos eram muito bons. Por coincidência, ela perscrutava seus amigos naquele momento. Eu estava a sua frente, deve ter visto meus lábios se mexendo, talvez até me ouvido, não sei, achei que tinha falado baixinho.
Percebi que ela tinha me percebido e repeti em voz alta que os pãezinhos eram muito bons.
"Tu divide comigo?", perguntou.
isto é:
folhetim,
pornô de classe média,
ricardo miyada,
são paulo
20130115
trabalho de verão
20130114
peça para aniversário de coryl - allan kaprow
Querida Coryl,
Como você e eu planejamos, passaremos essa tarde e noite juntos. Nós faremos compras, comeremos em um restaurante, talvez passaremos na festa dos Harrissons. Nesse tempo, que será considerado em todos os sentido como tempo normal, nós faremos a seguinte peça. Ela irá se interlaçar entre os aspectos cotidianos de nosso dia juntos.
Cada um de nós carregará conosco um espelho (de cerca de 3 cm quadrados) numa sacola de plástico. Durante este dia, sempre que qualquer um de nós desejar, nós pediremos que o outro fique parado por um momento e olharemos no espelho e focaremos no reflexo de uma parte do corpo do outro: um olho, uma boca, a face inteira, uma mão, um pé ou joelho etc.
Quanto da parte do corpo é refletida depende, claro, de quão perto ou distante estaremos um do outro, e de quão perto nossos olhos estarão do próprio espelho. O ângulo da reflexão também fará diferença: se alto ou muito baixo, ou de lado, ou inclinado. Isto será uma espécie de edição. E isso obviamente requererá que nos viremos de costas para nos vermos.
Quanto tivermos a parte do corpo que queremos, nós traçaremos [no espelho] com a ponta do dedo, tão lentamente ou rapidamente quanto quisermos, o contorno dessa parte do corpo, ou podemos preencher o contorno como se estivéssemos pintando. Quando tivermos terminados, colocaremos o espelho de volta na sacola e seguiremos fazendo nossas compras ou o que quer que seja.
Alternativamente, nós poderemos fazer uma variação desta atividade. Um de nós decidirá em algum momento particular pedir para olhar diretamente para uma parte do corpo da outra pessoa: uma orelha, uma cintura ou costas, uma virilha, um dedo. Então, ao invés de traçar o contorno da parte no espelho, ou preenchê-la, nós a traçaremos no corpo do outro.
Isto, também, será uma espécie de edição ou escolha; e como nós a faremos dependerá na forma como sentimos e no que pensamos. Nosso toque pode ser distanciado, ou afável, ou absorvido pela curiosidade; pode ser bem breve ou extenso. E, durante todos esses momentos, estaremos livres para conversar normalmente e para falarmos sobre o que acontece. Essas serão duas atividades alternativas que poderão ser realizadas em qualquer ordem ou repetição.
Durante o dia, e dependendo se estivermos em público ou sozinhos, podemos também pedir ao outro que modifique como uma parte específica do corpo pode ser vista: mudando a posição, adicionando ou removendo um objeto como um copo d'água, adicionando ou removendo roupas. Se nos pedirem para tirar nossas roupas, sentimentos sexuais não são necessariamente o ponto central da peça, mas também não estão excluídos.
Nós adicionaremos mais uma forma de atenção ao dia: aquela de um gravador de som. Nós gravaremos os sons dessas reflexões e traçados, e nossa fala sobre elas, ligando o gravador antecipadamente a qualquer momento que quisermos, e desligando-o depois, conforme a atividade se desenrola para coisas "normais" como fazer compras ou preparar uma xícara de chá. Onde a "peça" está ou não está depende da decisão de cada um de nós. Mais tarde, ouvir as sequências de gravações talvez seja uma forma de retraçar, e talvez outra reflexão de algum valor.
Finalmente, a peça foi feita para honrar nosso aniversário em 21 de dezembro. Mas, se nós o quisermos, podemos estendê-la além deste dia.
com amor,
seu Allan
20130108
20130105
20130103
comprei um brinquedo novo na beira da estrada
desde que voltei de viagem
Sultão tem me venerado
como a um deus-da-chuva
respeito seus clamores
e continuo abrindo o chuveiro sempre que me pede
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