(Descubro, sem surpresa, que Suffragete City combina mais com o exercício do que Sem Fantasia.)
Sigo. Observo, por curiosidade científica, que, sem o salto, as bundinhas das meninas não dão aqueles pulinhos maravilhosos entre cada passo, como no ambiente executivo. Em compensação, a corrida faz as nádegas chacoalharem de um jeito adorável: ritmado, absoluto e ainda com a mensagem que se lê nas entrelinhas: amanhã estarei mais durinha e mais perfeita. No fim das contas, bunda é sempre bom e eu me perco em pensamentos, lutando com a dificuldade em decidir se a lycra molda melhor as carnes do que as igualmente justas calças sociais. Não chego a uma resposta, mas há um critério de desempate que encerra a questão: o suor que imagino e que faz toda a diferença. Sigo correndo, controlando o ritmo para o acomodar ao da menina de coxas bonitas.
Um outro casal anda alguns metros à minha frente e eu percebo como é difícil adivinhar a idade nas mulheres. O menino, claramente, é um pirralho. A menina, de costas, pode ser a amiga gatinha dele ou pode ser a mãe. O jeito como ela arruma o cabelo, a segurança com que anda, tudo destoa dele, mas então os passo e vejo que também ela não deve ter mais que, sei lá, catorze anos. Impossível ter dito. (Um abraço para todos os pervertidos.)
Depois de meia hora, cumpri o dia.
***
O casal que caminha: mentira. O cara que corre com um pano amarrado no pescoço, como um superomem coreano: verdade. O gordinho voluntarioso, que afirmou que correria no ritmo que preferissem, mas que, pouco depois, eu encontrei sentado, moribundo, num dos bancos do parque: verdade. As amigas dele, que impuseram o ritmo e o largaram pra trás: mentira. A coreana fazendo um alongamento absurdo: verdade. O velhinho japonês com jeito de cineasta das antigas: verdade. Os dois times de futebol do campão: mentira. Os moleques da quadra mal iluminada: verdade. A São Paulo por cima do lago: mentira. O vento, a noite, o sal: verdades. Eu:
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