Quando o convívio social me obriga a dizer qualquer coisa (bom dia, obrigado, não foi nada) que meu interlocutor, pela natureza da situação, de antemão já adivinha, eu às vezes mexo a boca, apenas, e não digo nada. Outro dia, no metrô, passei do meu ponto e tive que, disfarçando para não ser flagrado nesse ato ridículo, sair com os demais na Sé, passar a catraca, entrar de novo (pagando, é claro, outra viagem) e voltar cinco estações, tudo porque, no meu ponto, não quis pedir licença a uma menina que me barrava o caminho. Nos eventos de família, eu sorrio e balanço a cabeça, conivente, enquanto pessoas que eu não conheço ou que conheço só de vista me chamam pelo nome e recontam, animadas, episódios da minha infância. Em compensação, até hoje o meu vizinho de baixo me chama de Fábio; eu respondo. O garçom erra meu prato e um outro embolsa meu troco, mas eu não falo nada. Solto pum no elevador, sempre. Falo Pra você também, quando o rapaz da pipoca me deseja um bom filme. (Uma vez, disse à moça da bilheteria: Eu me amo!; ainda por cima, menti.) Em qualquer lugar que esteja, eu sempre imagino possíveis catástrofes ao meu redor; gosto disso.
E no trabalho, sempre que posso, aproveito a distração alheia e, fingindo fazer anotações importantes, escrevo os rascunhos de textos estúpidos como este.
20120426
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