Um outro mistério surgiu, nascido
diretamente de minhas tentativas de solucionar o anterior: como seria possível
que Leonardo Tostão, cujos dedos eram identificados, um após o outro, por minha
colega de trabalho, não tivesse o endereço ou o telefone disponíveis em lugar
algum? Seu nome não constava da lista telefônica, não trazia perfis em redes
sociais, não aparecia em buscas feitas no Google.
Se suas digitais eram
identificadas pelas análises que a garota, sabe-se lá como, realizava, então
algum registro de sua existência deveria existir em algum banco de dados. No
entanto, minhas buscas por ele eram todas inúteis. Por que com ela era
diferente? Como não poderia deixar de ser, após algum tempo minhas suspeitas recaíram-se
sobre esta colega, que teria grande facilidade em depositar envelopes sobre
minha mesa.
Tomado pelo desejo de desvendar o
quanto antes o caso, lancei-me sobre sua escrivaninha assim que tive a
oportunidade, quando, deixando o telefone, ela foi ao banheiro. Abri a gaveta.
Meu coração parou: só havia um envelope, lá.
De repente, as coisas começaram a
fazer sentido: a resistência em chamar a polícia, a naturalidade com que
recebia diariamente dedos indicadores, a forma como guardava sempre o envelope
em sua gaveta --- decerto para poder repetir a brincadeira, no dia seguinte.
Senti-me um tonto, por ter acreditado naquilo por tanto tempo. Quantos
indicadores mais eu precisaria receber para suspeitar que houvesse algo errado?
E contudo, não fui dominado pela
raiva ou por qualquer desejo de vingança. O que mais me preocupava eram
justamente os mistérios que continuavam sem resposta: de quem era o indicador?
Como minha colega o havia conseguido? Será que ela o arrancara? E, acima de
tudo: por que, de todas as pessoas, mandá-lo justamente a mim?
a cantada mais maluca do mundo
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