20111130
ÚLTIMA CHAMADA
20111128
20111127
Das piadas de nicho que não vingaram
.
ode aos colunistas da folha ilustrada
ser um dos colunistas do caderno "Ilustrada" da Folha!
oh!, os heróis modernos
que se escondem na última página do caderno "Ilustrada" da Folha!
quando estou triste e quero me alegrar
leio os pensadores do caderno "Ilustrada" da Folha!
joão pereira coutinho, mestre da ironia
pena afiada
sangue português dos bons!
embeleza o caderno "Ilustrada" da Folha!
luiz felipe pondé, filósofo do contemporâneo!
homem que sabe pôr a mulher em seu lugar!
que sabe reconhecer os falsos intelectuais!
revigora o caderno "Ilustrada" da Folha!
(quando meu pai morreu
todos vieram ao enterro
e me abraçaram.
isso precisa ser dito!)
álvaro pereira júnior, messias dos jovens!
guia do futuro! líder infalível e apolítico! senhor do bom gosto e do bom tom!
enobrece o caderno "Ilustrada" da Folha!
ferreira gullar, poeta do porvir!
garrote das palavras! ancião da seriedade! homem renascido e bom!
amadurece o caderno "Ilustrada" da Folha!
marcelo coelho, analista do cotidiano!
rei do pormenor! embaixador da ciência belíssima!
obedece ao caderno "Ilustrada" da Folha!
contardo calligaris, psicólogo do absurdo!
mestre dos sonhos! senhor das acácias!
psicanalisa o caderno "Ilustrada" da Folha!
drauzio varela, doutor dos venenos!
conde da miséria! humanitário do destino!
cura o caderno "Ilustrada" da Folha!
chega o fim
desse poema
e desse engodo:
era um cavalo de tróia.
ó Deuses do cotidiano terrível
deixem-me dizer:
Eu vos perdôo!
sei que o que escrevem é trabalho
e que todos já fizemos coisas terríveis
pelo pão.
perdôo de pondé o machismo
e a vigarice
e a baixaria.
perdôo de joão a deselegância
a desonestidade
o desbunde.
perdôo de contardo o genérico
o enfadonho
o cansativo.
perdôo de coelho o desinteresse
os achismos
a mediocridade.
perdôo de varela os exageros
e a chatice
ainda que bem intencionada (??).
perdôo de álvaro a burrice
a velhice
o atraso.
perdôo de gullar a traição
o horror terrível de cada uma de suas rugas senis.
mas a verdade
é que não perdôo nenhum
e o mundo será melhor sem vocês.
20111123
Showbiz
Um homem conseguiu de algum jeito entrar na minha frente. Era um sujeito tão devagar e barbudo que eu fiquei pensando em como era possível que logo ele tivesse conseguido se meter ali, mas para mim, francamente, não fazia diferença nenhuma, porque tudo era tão absurdo que esse tanto a mais ou a menos, oras, nem merecia crédito. Você tem toda a razão, ele disse com aquela voz devagar e barbuda, eu penso exatamente como você e ele batia no meu ombro (bater, não, que senão os truculentos o tirariam dali, mas ele punha as mãos dele, devagares e barbudas, no meu ombro e repetia mil vezes que eu estava certo e que era aquilo mesmo), meu Deus, que horror, me devolvam os adolescentes, se preciso for.
Me esquivei com um sorriso, porque as pessoas estão sempre dispostas a aceitar um sorriso como resposta, ainda mais quando se está tão absolutamente certo quanto eu supostamente estava, e segui sorrindo, já, pra facilitar o trabalho dos flashes e do sujeitinho de terno e cigarro que me esperava à porta e que, no dia seguinte, teria que fazer mil ligações para todos os jornais caso eu não sorrisse e dizer algo como Não era mal-humor, claro que não, era apenas um verdinho no dente que queria esconder, uma couve que sobreviveu às salivadas de duas horas e treze minutos de uma mpbzinha sem vergonha e, é claro, dizem, muita razão. Também não é, vejam bem, que eu realmente me importasse com quão facilitada seria a vida do sujeito, ainda mais que ele certamente não facilitava a minha em nada, mas àquela altura (foram duas horas de mpb da pior espécie e muita razão) já eu me sentia um barbudo vagaroso que sorri para todo mundo e diz Vocês, meus senhores, têm toda a razão, a maior razão do mundo; e não há quem possa questionar isso, pois A diz que B está certo e B defende cegamente as opiniões de A e quando C olha mais de perto, vê-C logo que porra nenhuma foi dita e que foda-se tudo isso.
Então segui sorrindo enquanto todo mundo aplaudia, faziam um verdadeiro espetáculo (aqui, autorizo expressamente que o leitor atribua à palavra qualquer sentido cabível ou incabível, inclusive aqueles não listados sob o verbete nos dicionários e já pra facilitar a vida daqueles menos imaginativos, cito: cavalo, revista, estrela (são palavras escolhidas em processo semi-dadaísta, porque sujeito a revisão em que excluí nomes próprios)), um horror, um horror, e me pareceu incrível que ninguém, nem a mais mísera puta alma tenha percebido que por mais maravilhosas e cheias de razão que tivessem sido aquelas duas horas, aquelas vinte horas, aqueles vinte anos de mpb, por mais cheias de razão, dizia, eu agora estava era descendo as escadas, quase caindo, ainda por cima e teria sido melhor, quiçá, se tivesse caído, mesmo, me acabado no chão e sido retirado de lá em uma maca, porque aí pelo menos ficaria livre dos gritos agudos e dos tapas barbudos, por Deus. Mas ninguém ligava, acho que era isso: não falta de atenção, mas falta de interesse, mesmo, e de... contato. CO-MU-NI-CA-ÇA-~O. Seja como for, todos preferiam crer na ilusão dos concertos futuros, ainda maiores, mais cheios de adolescentes e de vagarosidade barbuda, mais cheios de, com o perdão do palavrão, razão.
O que me tranquilizou.
Tanto fazia, afinal, que eu estivesse lá ou, sei lá, em um catamarã, palavra mais linda da língua portuguesa, da tamil e de todas as outras, palavra mais linda do mundo inteiro e de mil concertos de neo-mpb e de um catamarã.
O homenzinho me apressava. Eu disse que tudo bem, que ele fosse indo e que eu pegaria um ônibus, o que o fez rir honestamente e me chamar de uma figura e me conduzir discretamente (a mão direita dele se insinuando levissimamente no meu braço esquerdo) para o banco de trás da BMW, cuja porta um outro sujeito, ou talvez fosse o mesmo, já segurava aberta como seu sorriso e (eu percebi então) como o meu.
um dia na praia com jesus
Ainda que Jesus concentre em si uma parte considerável da onipotência característica de seu Molde Primordial, o formato "desenho semi-bidimensional traçado na areia" traz consigo algumas dúzias de limitações, sendo possível logo de cara citar a invisibilidade para quem não olha para o chão, a fragilidade frente as intempéries do mundo e, sejamos francos, uma certa banalidade estética.
(Mesmo Jesus está sujeito à loteria cínica da reencarnação, pode um leitor mais sacana inferir. Não sei, não coloquem palavras na minha boca.)
Jesus é, porém, Jesus, e está carmicamente predisposto a lidar com desafios e situações desavantajosas, portanto, ao notar-se emplastrado na areia, pensou (com seus neurônios de silício): "Poderia ser pior" e pôs-se a fazer funcionar os seus poderes místicos.
De início, a autopreservação - irradiou uma aura que impedia (ou, sendo mais preciso, insistia fortemente) que passantes distraídos o pisoteassem e inadvertidamente obliterassem o salvador instantaneamente. Foi bem sucedido: um garoto correndo de uma ponta a outra da praia (sabe-se lá por quê) desviou seu caminho de maneira bastante antinatural, e Jesus sorriu (imaginariamente) aliviado e contente consigo mesmo. Percebeu, algum tempo depois, porém, que essa magia agia a favor e contra Seus desígnios: se, por um lado, salvava sua vida; por outro impedia que qualquer possível seguidor se aproximasse o suficiente para que pudesse ser influenciado. Jesus percebeu, não sem uma certa amargura, que, mais uma vez, sua eficiência como Homem Sábio estava diretamente ligada à sua capacidade de abnegação e sacrifício.
Levantou, então, seu campo de força, e esperou um pouco. Logo um vendedor de sorvete meio lânguido se aproximou e Jesus imediatamente violou a sua mente: "Irmão. Oi."
O vendedor, como era de se esperar, se assustou. Toda a gama de pensamentos que se associa com esse tipo de situação - tumor, loucura, aliens, FBI, sereias -passou por sua mente. Jesus tentou de novo:
"Irmão. Sou eu, Jesus. Olha pra baixo."
".........!!!!!!1111aaaaaaa"
"Tá vendo esse triângulo? Na areia? Sou eu, Jesus. Pois é, voltei. Daora, né?"
"!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!q"
"Eu. Jesus. Reenacarnei em forma de triângulo. Quero te contar algumas coisas sobre a vida."
"Q kralho q"
(Façamos uma pausa para notar que é extremamente difícil organizar pensamentos de maneira estética e gramaticalmente satisfatória, e que Jesus passara 300 anos estudando e meditando no céu para aprender a fazer isso, enquanto o sorveteiro jamais precisara de tal habilidade.)
"Bom. Vamolá. A regra de amar o próximo continua valendo. Acho que essa a gente nem precisa revisar. Continua bacana."
"+ e c o proxim for assassin/"
"Ele continua merecendo a nossa compreensão e amor pois somos todos filhos de Deus/Eu/Pai"
"mesmo c matah minha filia/?"
"Sim. Enfim. A próxima regra de ouro é:
(e nesse momento, assim como a natureza humana contaminara a divindade de Jesus 2011 anos antes, a natureza triangular começou a exercer sua influência)
o papel padrão pra impressoras tem que começar a ser triangular, e não retangular."
"q/"
"É. O papel triangular é esteticamente muito mais interessante e menos tedioso, e ainda dá pra juntar dois triângulos lado a lado e guardar mais eficientemente as folhas."
"ok"
"Além disso, todo sábado deve ser o dia em que as mulheres--
E então começou a chover e Jesus morreu e o sorveteiro fingiu que aquilo tinha sido só um derrame sem maiores consequências (e talvez tenha sido.)
20111120
Desmorona a internet. Nada de página inicial, leituras pendentes, e-mail, blog dos amigos, blog dos inimigos, notícias, pornografia, jogos, acaso. Ligou na casa do assinante. Oferecemos o conserto por apenas... Concerto? Sim, conserto e o upgrade para a velocidade jultrix. Não obrigado. Agradeço. Dois meses... duas semanas! não, dois dias! sem a internet e algo parece flutuar como um porco.
Leve dúvida se era narcótico ou não, um transe físico lhe acometeu lá pelas últimas horas. Também perdera o celular, o que quase se tornara um combo sem onomatopeias.
Sua vida dupla e sombria já chegava à solidão, quando voltou.
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20111119
Li por aí o seguinte, em três línguas que não falo bem:
Film Socialisme has marked for me the end of the death of cinema
Film Socialisme marque pour moi la fin de «la mort du cinéma»
Film Socialisme ha marcado para mí el final de «la muerte del cine»
Não é curioso? No inglês não há nada, nem aspas, nem itálico; no espanhol há uma ênfase de enfartar. Evidente que isso pouco importa, mas é curioso. Aos angleses a morte já incorporou o texto plebeu, perdendo toda a nobreza? Certamente são estágios diferentes, de língua pra língua, vide a Grécia.
Bem, já faz um tempo que não escrevo abertamente, não sei bem o que dizer. Vocês estão bem? Oi. Seria muito bom se se pudesse expressar o tipo de riso ou careta que esse tipo de post suscita. Talvez seja a imagem de um vaso se esparramando no chão. Algo entre o receio da dona e o prazer dos estilhaços.
Uma boa noite (e isto será eterno, mas nem sempre sincero).
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20111118
20111117
20111116
20111113
20111112
20111111
20111109
20111108
mamãe eu quero ser
Açougueiro, Adestrador de animais, Alfaiate, Alfaiate que revende artigos ligados à sua atividade, Alinhador de pneus, Amolador de artigos de cutelaria (facas, canivetes, tesouras, alicates etc.), Animador de festas, Artesão em borracha, Artesão em cerâmica, Artesão em cortiça, bambu e afins, Artesão em couro, Artesão em gesso, Artesão em madeira, Artesão em mármore, Artesão em materiais diversos, Artesão em metais, Artesão em metais preciosos, Artesão em papel, Artesão em plástico, Artesão em tecido, Artesão em vidro, Astrólogo, Azulejista, Baby siter, Balanceador de pneus, Banhista de animais domésticos, Bar (dono de), Barbeiro, Barqueiro, Barraqueiro, Bike boy (ciclista mensageiro), Bombeiro hidráulico, Boneleiro (fabricante de bonés), Bordadeira sob encomenda, Bordadeira sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Borracheiro, Borracheiro que revende artigos ligados à sua atividade, Cabeleireiro, Cabeleireiro que revende artigos ligados à sua atividade, Calafetador, Caminhoneiro, Capoteiro, Carpinteiro sob encomenda, Carpinteiro sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Carregador de malas, Carregador (veículos de transportes terrestres), Carroceiro, Cartazeiro Dedetizador, Depiladora, Digitador, Doceira, Eletricista, Encanador, Engraxate, Esteticista, Esteticista de animais domésticos, Estofador, Fabricante de produtos de limpeza, Fabricante de velas artesanais, Ferreiro/forjador, Ferramenteiro, Filmador, Fotocopiador, Fotógrafo, Fosseiro (limpador de fossa), Funileiro / lanterneiro, Galvanizador, Gesseiro, Guincheiro (reboque de veículos), Instrutor de artes cênicas, Instrutor de música, Instrutor de arte e cultura em geral, Instrutor de idiomas, Instrutor de informática, Jardineiro, Jornaleiro, Lapidador, Lavadeira de roupas, Lavador de carro, Lavador de estofado e sofá, Mágico, Manicure, Maquiador, Marceneiro sob encomenda, Marceneiro sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Marmiteiro, Mecânico de veículos, Merceeiro, Mergulhador (escafandrista), Motoboy, Mototaxista, Moveleiro, Oleiro, Ourives sob encomenda, Ourives sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Quitandeiro, Redeiro, Relojoeiro, Reparador de instrumentos musicais, Rendeira, Restaurador de livros, Restaurador de obras de arte, Salgadeira, Sapateiro sob encomenda, Sapateiro sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Seleiro, Serigrafista, Serralheiro, Sintequeiro, Tapeceiro, Tatuador, Taxista, Tecelão, Telhador, Torneiro mecânico, Tosador de animais domésticos, Tosquiador, Transportador de escolares, Tricoteira sob encomenda, Tricoteira sob encomenda e/ou que vende artigos de sua produção, Vassoureiro, Vendedor de laticínios, Vendedor de bijuterias e artesanatos, Vendedor de cosméticos e artigos de perfumaria, Vendeiro (secos e molhados), Verdureiro, Vidraceiro, Vinagreiro. |
20111107
fração cotidiana #1
20111103
20111101
... in the hopes of creating an artist cooperative. The plan never came to fruition, and the artist found himself lonely and isolated —a situation exacerbated by his inability to speak the challenging local Provençal dialect.
... in the hopes of creating an artist cooperative. The pain never came to fruition, and the artist found himself lonely and isolated —a situation exacerbated by his inability to speak the challenging local Provençal dialect.
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