20110816

poema clandestino sem gatos

todos os poemas são compostos por gatos.
compostos, nota-se, e não escritos.
um bom poema é uma boa sinfonia
e não-vice não-versa.

isso não é segredo ou paranóia
ou sensacionalismo incrível e empolgante.
é apenas verdade entediante e depressiva;
tão banal quanto os números e fórmulas que usamos para calcular impostos
calculamos impostos em noites instantâneas com gatos aos nossos pés
gatos que calculam poemas
poemas que calculam milênios
poemas de fazer o mundo relojoar.

uma vez tentei escrever um poema.
totalmente sozinho, com a total ausência de gatos.
terminei-o e achei bom.
assim como deus, achei bom.
passaram apenas algumas horas e deus e uma comitiva de gatos bateram à minha porta.
(aliás, deus é mais baixo do que diz-se por aí)
disseram que representavam um sindicato.
sindicato bem poderoso.
e que eu devia parar de roubar os empregos de cidadãos trabalhadores,
cidadãos que tinham filhos e famílias e hipotecas e amor.
desesperado, pedi perdão
e queimei todos os meus pêlos e minha pele.

desde então tenho composto
em grama e fogo e lama e lã.
ainda há risco, claro que há
mas as palavras reluzem mais
me beijam mais
me dão coragem para enfrentar os gatos.

quando eles chegarem
eu serei um poeta
e seja o que deus quiser.

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