20110831

isso não é um manifesto nem mesmo uma obra é só

sempre quis escrever ("criar") algo que verdadeiramente incomodasse ao próximo
não se sabe se isso se alcança com imagens grotescas e perturbadoras ou com uma sintaxe desnivelada entortante de-mente
(nem se sabe se isso se alcança)
(nem o que é grotesco)
o caminho talvez seja como dizem amigos uma perturbação política seguindo a máxima (capitalista) de que o órgão mais sensível do mundo é o bolso
bando de frouxos sem sexo
talvez seja o ad hominen ou a edição despudorada da foto de familiares com cacetes arrombando orelhas
ou então o estupro real das mães do público-alvo e o relato flaubertiano da experiência: "Todas as famílias são infelizes, principalmente você."

"Mariazinha, a filha do governador, um dia foi para a montanha. Seu pai achava que ela precisava de ar puro e natureza para ser mais feliz & contente & saudável. Lá chegando bebeu da água límpida do rio e observou as estrelas e então se transformou em um urso e defecou até que uma montanha de bosta ganhasse vida e engolisse a cabeça de todos os grilos (que na verdade eram os rivais políticos do supracitado governador) que por lá coaxavam. Foi reeleito assim sem mais delongas e agradeceu ao senhor lucifer pela graça alcançada sodomizando sua filhinha repetidas vezes com um ventilador de quatro pás. Vida longa ao governador!!"

os alvos fáceis
a falsa luta de classe de todos os coxinhas
meu pau é uma beterraba coberta de fungos usado/a apenas para bater em policiais que dormem. a lei não devia dormir.

minha revolução pessoal é a não capitalização das palavras "deus", "gozo" e "são paulo". isso basta. a revolução verde de cada um, pois se todos nós plantarmos árvores bonitas os viados vão parar de dar o cu. a revolução a revolução a revolução será um parquinho.

veremos vamos ver a salvação de todos nós a salvação de todos nós a salvação dos nossos pés. sem pés não se anda e andar é importante o retardado sempre alcança.

"Todo homem tem direito a uma mulher." a distribuição igualitária de cus. todos queremos cus. os nossos não nos bastam. toda mulher tem direito a um cu.

perguntei aos meus 3 conselheiros espirituais (um comentarista político, um artista e um líder religioso) como alcançar meus objetivos. em jogral-fonético, disseram que a coisa mais assustadora e ofensiva que se pode dizer a alguém é "eu te amo" e foi isso que eu fiz. se apaixonaram por mim e brigaram pelo direito de chupar o meu cacete. foi medíocre.

(na verdade só quero salvar a áfrica. sou o bono vox da verdade. eu amo vocês.)

(não sei o que fazer.)

ora hora. tudo que eu escrevo é status quo. espero que sim. adoto os seus filhos indesejados no tarot. eu sou uma boa pessoa. por ora só. ora.

vagabundeio.

DUELO DIGITANALO(GI)KO!


20110829

Chuva e sol

Samuel Matias era um sujeito de não muito mais que um metro e meio e com o peso aproximado de um cachorro de médio porte, mas quando ele carregava dezenas de toneladas de chumbo incandescente por sobre pequenos vilarejos do sudeste asiático, despejando-os eventualmente sobre um ou outro povoado, ninguém o diria. Ele sentia algum prazer, é claro, em ver as famílias correndo desesperada e inultilmente para fora do trajeto de seu boing preto, divertindo-se em atingir sempre aqueles que mais lhe chamavam a atenção na multidão, mas não se deixe enganar: havia muito pouco de lúdico em seu trabalho e, na verdade, tratava-se de serviço oficial e aparentemente de suma importância, embora ele nunca houvesse entendido quais os motivos exatos que levaram o governo norte-coreano a contratar um brasileiro para atirar metal quente sobre vilarejos aleatórios (pois ele tinha total discricionariedade em escolher aqueles que mais lhe aprazessem) do referido sudeste asiático. A ignorância é uma bênção, ele costumava dizer, em meio a seus rasantes flamejantes.

Em 1997, o sultão Hassanal Bolkiah, de Brunei, foi eleito o homem mais rico do mundo, superando o americano Bill Gates em patrimônio e em cuidado com o cavanhaque — que era podado meticulosamente por, presume-se, um grupo de funcionárias especificamente contratadas para este fim. A despeito das muitas críticas às suas prioridades, vindas de gente que argumentava que Gates nem sequer possuía um cavanhaque, o sultão seguia bem com sua coleção de automóveis, aviões e descaso para com a situação dos habitantes de seu sultanato.
Nessa época, vivia naquelas terras a jovem Najibah, que compensava as feições modestas com a dedicação dobrada no trabalho (dedicava-se ao cultivo de variados grãos) e no cuidado com a família. Najibah tinha poucos motivos para crer, mas jamais questionara sua fé na fortuna trazida pelos céus, ao menos até o dia em que deles vieram as gotas ferventes de metal derretido, despejadas sem aviso por um distante avião negro. Enquanto sua perna esquerda era consumida pelo calor vulcânico, Najibah pensou ter ouvido um riso ao longe. Ela, que nunca havia questionado a razão de suas mazelas e dificuldades, diante de tão deliberado ato de crueldade, jurou encontrar uma justificativa. 
E, mais importante, vingança.

matriz de xilo: as aventuras do sr. goriot (impressão em um só clique)


antes:



geeeente, xilogravura é tuuuuuuuuuuudo!!!!

+ antes



rsrsrs gato no matoooo

20110827


The world is over but I don't care
'Cause

I am with you
Now I've got to explain
Things, they have changed
In such a permanent way
Life seems unreal
Can we go back to your place?
"You drink too much"
Makes me drink just the same

The first time, it happened too fast
The second time, I thought it would last

.

20110821

20110820

solidão paulista - cap1

Já faz algum tempo em que penso em você... Que vida você leva?
Você, aí, com a cadeira embaixo da bunda e o mundo adiante dos olhos. Me pergunto, sempre me perguntei, que mundo será que você vê? Se tem algo a ver com o meu ou se são universos distintos por completo; tento entender. O que é viver onde vive e com seus limites, que não são os meus. O que é receber, dia após dia, o tratamento de que você é você e mais ninguém (e não ficar maluco com isso).

Uma tentativa de agarrar você pelo pescoço, estender o meu braço até não poder mais ser ignorado e enfim sussurrar a plenos pulmões o que toda a cidade significa pra mim e pra mais ninguém nesse espaço infinito e imbecil.
OLHE PRA CÁ!
VEJA QUANTA COISA BONITA!
SORRIA DE VEZ EM QUANDO,
ME RESPONDA,
VAMOS TOMAR UM CAFÉ!!































I CAMPEONATO DA REPÚBLICA LAYER

Ei Campeão! Você quer ser o melhor? Nós também! Venha participar do primeiro campeonato da República Layer! Nele serão premiados com status vitalício de "o melhor" os melhores artistas que transformarem a imagem acima no melhor poster esportivo da face da Terra!!! A Copa no Brasil está chegando, não deixe de fazer este gol de placa!

Dúvidas deverão ser encaminhadas para o e-mail: rmiyada@gmail.com ou elrafanantes@gmail.com

Layer você também!




20110818

do fracasso como escritor

filhos duma mãe! cacete, mas que droga
meus planos juvenis não têm outorga
quis pegar a pena e contar prosa
mas, óbvio, resulta sempre horrorosa

contos escrevi em todos os papéis
até mesmo nos de comer pastéis
romances, claro, nunca fui capaz
já terminam meus tempos de rapaz

caí para a poesia sem rigor
para o surrealismo mais barato
tônica, uísque, conhaque, café

deitado na cama, nunca de pé
assim eu me faço, do gato, o rato
puta que pariu, caralho, torpor.


20110816

o antigo amor na cama com um brutamontes

tudo bem, tudo bem
eu lhe disse: pode ir, vai,
lhe dou licença
toda licença do mundo

escrevi em meu caderno:
beatriz já não me ama
também não a amo mais
nota: deixar de pensar nela como minha

quando eu imaginava
(sem querer, eu juro)
ela na cama com um brutamontes
me sentia levemente excitado

tudo bem, bernardo, tudo bem
você se excita pois é natural
excitar-se com beatriz
e um brutamontes na cama

mas no dia em que vi no jornal
EXTRA EXTRA beatriz na cama com brutamontes
em todos os cinemas do bairro
em todas as casas de lazer por aí

nossa, gente, eu chorei demais

poema clandestino sem gatos

todos os poemas são compostos por gatos.
compostos, nota-se, e não escritos.
um bom poema é uma boa sinfonia
e não-vice não-versa.

isso não é segredo ou paranóia
ou sensacionalismo incrível e empolgante.
é apenas verdade entediante e depressiva;
tão banal quanto os números e fórmulas que usamos para calcular impostos
calculamos impostos em noites instantâneas com gatos aos nossos pés
gatos que calculam poemas
poemas que calculam milênios
poemas de fazer o mundo relojoar.

uma vez tentei escrever um poema.
totalmente sozinho, com a total ausência de gatos.
terminei-o e achei bom.
assim como deus, achei bom.
passaram apenas algumas horas e deus e uma comitiva de gatos bateram à minha porta.
(aliás, deus é mais baixo do que diz-se por aí)
disseram que representavam um sindicato.
sindicato bem poderoso.
e que eu devia parar de roubar os empregos de cidadãos trabalhadores,
cidadãos que tinham filhos e famílias e hipotecas e amor.
desesperado, pedi perdão
e queimei todos os meus pêlos e minha pele.

desde então tenho composto
em grama e fogo e lama e lã.
ainda há risco, claro que há
mas as palavras reluzem mais
me beijam mais
me dão coragem para enfrentar os gatos.

quando eles chegarem
eu serei um poeta
e seja o que deus quiser.

20110815

Estudo sobre Marília Gabriela.

Marília Gabriela entrevista Antonio Banderas (ele fala sobre como um diretor é uma espécie de Deus).

Abre para um plano geral.

Ela está com as pernas cruzadas. Ambos os pés tocam o chão completamente, solas do sapato grudadas firmemente e paralelas. Como? Tento reproduzir a pose, é impossível — a perna por cima naturalmente não alcança direito o chão.

Uma pessoa normal é incapaz de fazer isso.

Me pergunto: como isso pode ser possível?

Talvez ela tenha uma perna muito maior do que a outra, mas me parece improvável: uma vez a encontrei no HSBC Belas Artes, o finado cinema, e ela andava normalmente e não parecia haver nada de diferente em suas pernas. Naquela ocasião, Henrique ofereceu um coquinho caramelizado para ela e ela não aceitou — moça de juízo. Não pode ser isso, então.

Provavelmente ela tem o corpo elástico, como o Sr. Fantástico. Ela é, certamente uma alienígena.

Não! Esses pés no chão, perfeitamente alinhados, não podem ser dela. A verdade me assombra, mas só pode ser esta: havia alguém sob ela, aquelas pernas eram de outra pessoa.

Na verdade, Marília Gabriela é um fantoche.

Atrás dela esconde-se um ventríloquo.

Percebo, estarrecido, que o ventríloquo sou eu.

Então era eu quem fazia aquelas perguntas absurdas, superficiais… O pai de toda aquela intelectualité da boca para fora fui eu, o tempo todo.

"Inferno!", grito. Minha mãe e Antonio Banderas se assustam. Marília Gabriela — eu — chama o intervalo comercial.

Não há tempo, preciso acabar com isso agora.

Pulo da varanda no meu mais importante gesto, heroísmo puro! Adeus, Marília Gabriela, chega.

20110814

.


Gordines então levanta a voz a seus até então amigos de cinema digital que faziam o velho cineblubinho aos sábados quando Juvêncio não estava no hospital:

–– Suas retinas são drop frames, porra!

Mariazinha que não entendia nada de cinema e tecnologia riu um pouquinho e perguntou para Josival, estarrecido:

–– O que é drofeimes?

Juvêncio, se recuperando (até hoje) do baque, postou solenemente sua mão no ombro de Mariazinha (coisa que até então não tinha a coragem de fazê-lo) e disse com a coragem daqueles que já estão condenados:

–– Não, você não precisa saber.



.

20110808

a nova velha ordem mundial, como sempre muito equivocada.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/955968-alagoana-e-escolhida-adolescente-mais-bonita-do-mundo.shtml

20110803

Do tempo que não era hype

A Morte do Poeta

(...)
Já hoje aqui esteve pra testemunhá
A vítima, meu quase chará
Cuja felicidade do seu gargalho
Nos fez compensar todo o trabalho

As diligências foram concluídas
O inquérito me vem pra relatar
Mas como nesta satélite acabamos de chegar
E não trouxemos os modelos pra usar
Resta-nos apenas inovar

Resolvi fazê-lo em poesia
Pois carrego no peito a magia
De quem ama a fantasia
De lutar pela Paz ou contra qualquer covardia

Assim seguimos em mais um plantão
Esperando a próxima situação
De terno, distintivo, pistola e caneta na mão
No cumprimento da fé de nossa missão

distância para anelar a distância (ou A Gruta Fantástica)

Não vou pra cama, porque não quero encarar a cama - seu colchão e colcha, edredon e lençol amarrotado, o lado direito ao lado do esquerdo e só. Assim como não tomo leite, porque sinto nojo de leite, ou escrevo uma carta, porque faz anos que não escrevo cartas e sinto que com isso um pouquinho do que eu considero ser minha alma virou bolodecarne. Amanhã vou caminhar até o correio, comprar um selo, colar o envelope com gomarábica e despachar uma página cheia de rabiscos pra muito longe daqui. Depois disso, vou continuar aqui e a carta um dia vai chegar lá, onde vão abrir e ler e quem sabe rir da minha cara, quem sabe responder.

Tem muito tempo em que eu não sentia esse frio e esse sono que me descola da carne. Às vezes o que eu queria mesmo era olhar pela janela e enxergar o Pico, mas hoje em dia na minha frente tem três andares de concreto erguidos de pé cheio na irregularidade, e por isso eu fico só com A Criança Indo Dormir - mas eu, não.

20110801

distância para anular o poema:

não tenho mais notícias suas

não sei que calças está vestindo
(36, 38, 40, 42, 44?)
ou os calçados
(33, 34, 35, 36, 37, 38?)
ou os cavalos
(dedo-de-moça, sorridente, sprinkler, branco, raio-de-fogo?)
ou os CEPs, ZIPs, DDDs, DDIs, DSTs, DILDOS
ou afins

sei que espero ansiosamente sua resposta

espero ansiosamente, sei, que sua resposta
seja você

você (um braço)
você (o abraço)
você (me sufoca)
você (transpiramos)
você (nos achamos)
você (mais uma vez)

você já pensou nestas palavras?:
sinto sua falta