Y está na fila da cantina. X está numa mesa próxima. X levanta para ir falar com Y.
X: Segunda-feira...
Y: Erm... não, hoje é quarta.
X: Você não disse que só vinha aqui de segunda?
Y: É, mas tenho prova hoje às 9h20.
X: O que você está fazendo aqui? Não tem aula?
Y: Tenho, mas achei melhor vir estudar.
X se vira pra voltar pra mesa.
Y: Posso?
X se senta, sem responder.
20090930
20090927
Ele sentia a mão suar,
ele sentia as pernas bambearem enquanto esperava, sentado na sala vazia. Havia cinco canetas (três azuis, uma preta e uma vermelha), uma lapiseira com a logomarca da empresa, uma borracha usada até a metade, três clipes (um dos quais, torto), um grampeador industrial, dois blocos de post-it e um caderno velho espalhados sobre a mesa. Havia cento e quarenta e três formas de ligar todos esses objetos utilizando-se de menos de dez linhas retas, cinquenta e oito figuras geométricas podiam ser formadas usando-os como vértices e Fernando tinha quase certeza de que uma delas era praticamente um octágono regular.
Além disso, havia o computador (com manchas pretas sobre o plástico branco, uma das quais lembrando uma visão em perfil do Getúlio Vargas), a cadeira do outro lado da mesa, a pequena palmeira com quatro folhas bem abertas (quase o mesmo tom de verde da borracha meio-usada), uma réplica de algum quadro de Miró em uma moldura preta de extremo mal gosto, e uma plaquinha com o nome do chefe colocada sobre a porta.
Que abriu.
Ah, oi, espero que não tenha esperado muito, disse o chefe do nome na plaquinha e Fernando não se importaria em esperar mais um dia ou dois, mais a vida inteira. Agora, tinha que falar. Vinte e cinco anos. Completados naquele dia. Bodas de prata com a empresa e só agora ele se sentava na cadeira em frente ao chefe com as mãos suando e as pernas bambeando e a cabeça contando coisas, calculando contas, criando catetos e – eu estou me demitindo, ele disse de uma vez e o resto da conversa foi o chefe quem levou.
No começo, ele gostava, mesmo, ou achava que gostava do que fazia na empresa e agora já não saberia dizer quanto tempo fazia que estava ali só por medo de dizer tchau. E bênção.
No fim, não foi tão difícil e ele aproveitou o ensejo para dizer ao colega com quem dividia a sala que também nunca mais voltaria ao clube de leitura aos sábados, que também disso se demitia. Enquanto se divertia com os olhares perplexos de todos, ajeitou as últimas coisas que tinha sobre a mesa, colocando-as na mochila e desceu pelo elevador e saiu pela porta da frente e entrou no estacionamento do outro lado da rua pela última vez. Pela primeira vez em anos quis colocar alto o volume do rádio e abriu a janela porque quis sentir o vento.
Antes de chegar em casa, ainda passou no clube e na academia e no curso de italiano e cancelou sua matrícula em todos esses lugares. Mesmo assim, ainda eram cinco horas da tarde quando chegou em casa e ele não podia aguentar de ansiedade para dizer a sua esposa, de forma que teve que dirigir até o escritório dela no centro e foi lá mesmo que terminou o casamento. De lá, dirigiu sabe lá Deus para onde, e os boatos de que teria se matado só terminaram quando um conhecido o fotografou sem querer durante uma viagem às Bahamas.
Além disso, havia o computador (com manchas pretas sobre o plástico branco, uma das quais lembrando uma visão em perfil do Getúlio Vargas), a cadeira do outro lado da mesa, a pequena palmeira com quatro folhas bem abertas (quase o mesmo tom de verde da borracha meio-usada), uma réplica de algum quadro de Miró em uma moldura preta de extremo mal gosto, e uma plaquinha com o nome do chefe colocada sobre a porta.
Que abriu.
Ah, oi, espero que não tenha esperado muito, disse o chefe do nome na plaquinha e Fernando não se importaria em esperar mais um dia ou dois, mais a vida inteira. Agora, tinha que falar. Vinte e cinco anos. Completados naquele dia. Bodas de prata com a empresa e só agora ele se sentava na cadeira em frente ao chefe com as mãos suando e as pernas bambeando e a cabeça contando coisas, calculando contas, criando catetos e – eu estou me demitindo, ele disse de uma vez e o resto da conversa foi o chefe quem levou.
No começo, ele gostava, mesmo, ou achava que gostava do que fazia na empresa e agora já não saberia dizer quanto tempo fazia que estava ali só por medo de dizer tchau. E bênção.
No fim, não foi tão difícil e ele aproveitou o ensejo para dizer ao colega com quem dividia a sala que também nunca mais voltaria ao clube de leitura aos sábados, que também disso se demitia. Enquanto se divertia com os olhares perplexos de todos, ajeitou as últimas coisas que tinha sobre a mesa, colocando-as na mochila e desceu pelo elevador e saiu pela porta da frente e entrou no estacionamento do outro lado da rua pela última vez. Pela primeira vez em anos quis colocar alto o volume do rádio e abriu a janela porque quis sentir o vento.
Antes de chegar em casa, ainda passou no clube e na academia e no curso de italiano e cancelou sua matrícula em todos esses lugares. Mesmo assim, ainda eram cinco horas da tarde quando chegou em casa e ele não podia aguentar de ansiedade para dizer a sua esposa, de forma que teve que dirigir até o escritório dela no centro e foi lá mesmo que terminou o casamento. De lá, dirigiu sabe lá Deus para onde, e os boatos de que teria se matado só terminaram quando um conhecido o fotografou sem querer durante uma viagem às Bahamas.
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Stranger: Hi.
Stranger: Please, don't disconnect.
Stranger: I really need to talk.
You: o.O What about?
Stranger: Just talk. It's 3:30 AM here, my boyfriend has just left me after balling me and I'm all alone.
Stranger: Guess I am just a wee depressed.
You have disconnected.
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Stranger: Guess I am just a wee depressed.
You have disconnected.
20090926
20090925
Hostilidade?, parte 2
Y tem aula em meia hora. Y vai à cantina para comer alguma coisa. Y está subindo a rampa para a cantina com seu colega de aula. X está descendo. Y olha pra X. X olha pra Y. Y sabe que X o viu, e X sabe que Y a viu. Y sabe que X sabe que Y a viu, e X sabe que Y sabe que X a viu.
Nem sequer um "oi".
Nem sequer um "oi".
20090924
Dava pra ver
que ela tinha colocado o coração naquilo. Depois de cinco anos morando juntos, ela não quis me dizer mais nada e só me entregou aquele pedacinho de papel. Ela escreveu meu nome do lado de fora e fechou tudo em uma dobradura intrincada e disse que eu só devia abrir depois que ela tivesse ido.
Aquela foi a última vez que a gente se viu e eu nunca descobri como desfazer a dobradura.
Aquela foi a última vez que a gente se viu e eu nunca descobri como desfazer a dobradura.
PASSION: Quadros Acurados
isto é:
amor,
anos 60,
anos 70,
aumont,
beleza,
fotografia,
godard,
passion,
ricardo miyada
20090923
20090922
20090921
Hostilidade?
Y está lendo na cantina. X aparece e fica falando com as amigas e (faz que) não vê Y. Y continua lendo. X e suas amigas sobem pra aula. Y ainda está lendo.
Cinco minutos mais tarde, X desce pra comprar um chocolate. X vai falar com Y.
X: Que horas começa sua aula?
Y: Hoje... às 9h20.
X: Uhm. E por que você sempre chega mais cedo?
Y: Pra não pegar trânsito. Aí fico estudando aqui.
X: E por que aqui?
Y: Porque o ambiente daqui é mais agradável que o da minha faculdade.
X: Uhm. Vou subir pra aula.
X começa a subir pra aula. X volta pra falar com Y de novo.
X: Mas sua aula sempre começa 9h20?
Y: Não, só hoje. Nos outros dias começa 7h30.
X: Mas você sempre tá aqui...
Y: Tou não.
X: Tá sim.
Y: Não.
X: Ah...
X sobe pra aula.
Cinco minutos mais tarde, X desce pra comprar um chocolate. X vai falar com Y.
X: Que horas começa sua aula?
Y: Hoje... às 9h20.
X: Uhm. E por que você sempre chega mais cedo?
Y: Pra não pegar trânsito. Aí fico estudando aqui.
X: E por que aqui?
Y: Porque o ambiente daqui é mais agradável que o da minha faculdade.
X: Uhm. Vou subir pra aula.
X começa a subir pra aula. X volta pra falar com Y de novo.
X: Mas sua aula sempre começa 9h20?
Y: Não, só hoje. Nos outros dias começa 7h30.
X: Mas você sempre tá aqui...
Y: Tou não.
X: Tá sim.
Y: Não.
X: Ah...
X sobe pra aula.
20090920
Velheza, pó moderno
Triste são os releitores
quando, astuciosos, percebem
que as letras já não
são
as mesmas e que perdem todos os livros
sem economizar espaço nenhum.
Triste eram os leitores
que, ignorantes, não sabiam
nada
, nem
do texto que liam,
nem que liam para nunca mais
revisitar.
Triste foram os eleitores
que, desgraçados, esqueciam
sempre que não
havia
ninguém eterno para votar.
isto é:
felicidade indireta,
pó cerebral,
pó moderno,
rafaelnantes
20090918
20090916
estudo
Onde existe uma prisão, existe Romano Políbio, Capitão de Infantaria, pronto pra saracotear a todos com seus barbatões. Ele não conseguirá, nunca Nunca NUNCA!! Em nome de nosso PAÍS. Romano jamais libertará os ladrões da Nova Histeria Feminina, não por falta de sonho, força, ambição ou senso de justiça - apenas por excesso de pelos nas caras e nos entrepiernas carnudos protuberantes. Dormirá bem por trinta anos, sem água ou comida ou qualquer outra coisa senão o tédio e a dor nas costas de uma boa prisão Federal da Boa República. Anjos com peitinhos e pernocas de fora, nossas lindas companheiras terrenas traíram a tudo e a todos com seu espírito de víbora e agora sofremos como nunca dantas. Nóis sofre; mais nóis goza.
isto é:
distopia,
fotografia,
H.Chiurciu,
idiota
20090915
Uma série já meio velha, em 3 episódios.
;;Sabe o que eu acho que é a arte?;;
.Que é?.
;;Ah, meu amigo, arte é comunicação, sabe? Transferência de fluídos pós-pré-mentálicos, as especifidades todas...;;
.Sim, a arte também está lá..
;;É...;;
.Que é?.
;;Ah, meu amigo, arte é comunicação, sabe? Transferência de fluídos pós-pré-mentálicos, as especifidades todas...;;
.Sim, a arte também está lá..
;;É...;;
Antes ou Depois
"Colheria cachinhos uma vida inteira, se fossem todos tão redondinhos e cheirosos como aqueles que sua querida filhinha me entregou na cama de tafetá de seus papais e mamães que viajavam para o litoral buscando um casamento que não ia mais voltar, e era bom assim."
(Fábulas de Bazin - pgs. 37/38)
isto é:
citações não-clássicas,
fanfic,
H.Chiurciu,
política
20090914
20090912
O Sorriso Ímpar
isto é:
festa,
fotografia,
H.Chiurciu,
ricardo miyada,
sorvete
20090909
20090908
20090906
Eu tinha vinte e sete anos
quando conheci Douglas em uma reunião da minha empresa com alguns clientes. Ele era mais novo e gostava de música clássica e enfiou a mão dentro da minha saia enquanto acariciava minhas coxas no restaurante japonês.
Passamos vinte e dois dias perfeitos naquele julho, e foi num sábado que marcamos um churrasco no térreo do prédio dele. Eu estava falando com umas amigas sobre qualquer coisa, mas fui buscar uma caipirinha e ouvi ele comentar sobre política com uns colegas de trabalho. Foi quando eu descobri que ele votava no Partido Amarelo.
Durante dezenove anos, nós ficamos juntos – eu sempre tentando evitar assuntos relacionados à política quando estava com ele. Uma hora, simplesmente não deu mais.
Passamos vinte e dois dias perfeitos naquele julho, e foi num sábado que marcamos um churrasco no térreo do prédio dele. Eu estava falando com umas amigas sobre qualquer coisa, mas fui buscar uma caipirinha e ouvi ele comentar sobre política com uns colegas de trabalho. Foi quando eu descobri que ele votava no Partido Amarelo.
Durante dezenove anos, nós ficamos juntos – eu sempre tentando evitar assuntos relacionados à política quando estava com ele. Uma hora, simplesmente não deu mais.
Passion, Godard, Cinema.
a soma se faz pela multiplicação dos componentes
isto é:
cinema,
godard,
plágio,
plástico,
ricardo miyada
20090904
Mutantes
amanhaceu um lindo dia cheirando alegria,
pois eu sonhei e acordei pensando nela
seria amor ou oficina do diabo?
pois eu sonhei e acordei pensando nela
seria amor ou oficina do diabo?
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