Na domingueira que antecede a semana santa, e me perdoem as minúsculas, a gravidez das palavras descrevia um círculo miúdo tornado oblíquo em minhas pernas cafuzas. A catinga que emanava da sala quadrada, dessas cubículas, bem branquinhas, bem branquinhas, cantava em fedores mornos e se fundia ao calor numa perfeita imitação da valsa um-dois-três.
Minhas pernas abertas, ainda em valsa, permitiam à lubrificosa melhor visão do mundo, pois assim ele me disse para ficar. Arreganhada, então, deitada, sentia as pulsadas da coisa que se avolumava dentro de mim; dentro para fora, dentro para fora. A dor mudou o nome da lubrificosa, e ela sangrava como o vinho das taças ricas de minha sinhá.
O movimento contínuo, os olhos daquele que segurava minha mão apertativa, e os gritos e gemidos de uma pobre mulher que não soube amar como devia, tudo isso naquela noite quente de domingueira, que mudaria minha vida para sempre.
- Mais forte, respirava.
- Mais força, respirei.
- quase lá, quase lá.
E mais forte a pulsada me carregava a dores senhoras, e mais forte e alto gemia minha alma. E minha ossada se avermelhou e cantava em coro, e um grande boi me apareceu nas vistas. O chifrudo fumava um charuto bem grosso, e grossa era a coisa que relutava em me deixar pazigüada, arrebatando jorradas de meu sangue.
Com desavenças, tapas aqui e tapas lá, motorei o tato, espremi a barriga e contorci o cangote, em busca de algo que me levasse embora dali. Lambuzadas de sangue, minhas pernas pintavam abstratas os lençóis desalinhados daquele colchonete. A dor não cessava. Pensei na minha mãe, e em tudo que ela havia me ensinado sobre os homens. A velha mulher me dava as lições mais valorosas já ignoradas por alguém, e ainda lavava a louça como ninguém. E ninguém e alguém, neste contexto, são a mesma pessoa. Ou a mesma não-pessoa. Pensei em toda a minha vida, mas nada me arrebatava aquela sensação que tomava forma dentro de mim, e me machucava as entradas.
O choro me subiu aos ouvidos, e eu deitei de lado, exausta. Quase sorrindo.
- é menino.
minganou!
ResponderExcluircomo você é peralta!
ResponderExcluirAcho que o público não está dando conta de acompanhar os autores...
ResponderExcluirMas, é claro, quem liga?
pois é, e o guilherme ainda perde tempo a postar coisas ultra-confusas sobre nós mesmos (???)
ResponderExcluir"a gravidez das palavras"
ResponderExcluirFechou aqui.