20100818

Sobre a existência de vampiros

Antes de dizer qualquer coisa, quero adiantar que este texto não é mais um ataque à saga Crepúsculo (ou, pelo menos, não é só isso) e que eu acho que tudo de que o mundo não precisa é de mais gente engrossando a pseudo-braveza de Felipe Netos e afins. Dito isto, quero deixar claro que eu fico profundamente irritado quando alguém diz que tudo bem um vampiro brilhar no sol, sob a desculpa de que isso ocorre em uma obra de ficção. Esse tipo de raciocínio é terrivelmente falho simplesmente porque parte da falsa premissa de que vampiros não existem.
Agora, se tudo estiver certo, alguém deverá estar pensando que eu sou um idiota que acredita que o Edward está arrasando corações em algum lugar desse mundo grande sem porteira. Bem, embora eu não possa argumentar muito contra esta tese, não é, definitivamente, este o meu ponto aqui. O meu ponto é que um vampiro existe tanto quanto um ser humano, ou, para usar um exemplo que deixe mais claro, um pássaro.
Eu poderia apostar sem muito medo de errar que você é plenamente capaz de entender o que eu quero dizer quando eu uso a palavra “pássaro” e, no entanto, você nunca viu um pássaro na vida. Agora já começa a ser menos improvável que você entenda que, apesar de já ter visto centenas de pássaros na vida (presumivelmente), o que você viu foram diferentes espécimes de bem-te-vis, beija-flores, sabiás etc. Um pássaro, enquanto arquétipo, não existe na natureza.
Clareando: um pássaro — e, já que estamos nisso, um humano e um vampiro e uma casa e etc — é um modelo, quando o que existem são indivíduos. Todo mundo sabe o que é uma pessoa e, no entando, cada pessoa é diferente. A mesma coisa vale para a ficção. Um vampiro, enquanto arquétipo, é tão existente quanto qualquer outro modelo. Eles são sombrios, se alimentam de sangue, não têm reflexo e não, eles não brilham no sol. Qualquer um que seja questionado saberá responder o que é um vampiro e, em uma pesquisa do tipo, as definições dadas serão essencialmente as mesmas, o que prova que existe, sim, uma consciência, ainda que vaga, quanto ao que um vampiro é ou deveria ser.
Claro que o vampiro que aterroriza a Turma da Mônica em um dos meus desenhos favoritos da infância é diferente dos que eu mato como Belmont e do que eu li em Stoker, mas todos eles guardam suficientes semelhanças para serem percebidos como correspondentes a um mesmo modelo. E que fique claro: dizer isso não significa que os vampiros da saga Crepúsculo não o sejam. Na verdade, eu não sei.
Só sei que “vampiros não existem” é o pior argumento possível para justificar seja qual for a invencionice que se pretenda defender.

3 comentários:

  1. Mas o que falha no argumento é que faz sentido dizer que tudo bem um vampiro brilhar ao sol porque é ficção, porque não importa para a ficção se os vampiros de fato brilham ou não, se os humanos de fato brilham ou não, se os pássaros de fato brilham ou não.

    Se dois pássaros existem e brilham, dois existem.

    A ficção permite que as coisas se recoloquem.

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  2. Ten razão, retiro tudo o que disse.

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