20100825

Parte III - A História de Sirena

Ele entrou cambaleante e sentou. Levou cinco minutos para pedir uma cerveja e depois deu uma olhada em volta, checando o ambiente. Todos os dias, sempre havia muita gente entrando no bar e fazendo aquilo, mas o caso dele era diferente, porque ele fazia aquilo todos os dias. Se ele fosse da cidade, isso nem seria tão estranho, mas a verdade é que ninguém nunca via ele por ali, exceto quando anoitecia e ele entrava no bar para demorar, pedir uma cerveja e olhar em volta. Um dia, Sereia não aguentou e foi falar com ele.
Sereia era um exemplo de ascensão social. Ela começou a trabalhar no cabaré aos doze anos, cantando no salão enquanto sua irmã tocava. Conforme seu corpo cresceu, aumentaram as pressões para que ela mudasse o ramo de atuação, especialmente quando um homem a puxou pelo braço, jogou no chão e posicionou ajoelhada de frente para seu pau. Ele enfiou aquele pedaço de carne na boca dela, puxou-a pelos cabelos e berrou de dor enquanto ela limpava o sangue dos lábios.
Naquela noite, as pessoas quebraram cadeiras e bateram nas outras mulheres e Sereia apanhou com a chibata até desmaiar. Quando acordou, ela ficou imóvel de dor, mas não parou de pensar um segundo.
Depois, Sereia sumiu por um ano. Algumas pessoas que passavam pela estrada diziam que a haviam visto e comido em troca de centavos, mas ninguém discutiu esse assunto quando ela voltou um dia em um vestido vermelho, mais linda que o mundo.
Ela entrou no cabaré, pediu uma cerveja e um queijo e, quando este chegou, ela cortou dois pedaços com o mesmo facão que depois usou para matar o antigo gigolô. Foi uma cena horrível porque a faca não era muito afiada e alguns pedaços caíram dentro da cerveja dos clientes, mas ninguém se opôs a que ela tomasse conta do lugar dali em diante. Depois disso, os preços não aumentaram e a comida ficou muito melhor, de forma que o estabelecimento não se abalou com a perda do antigo proprietário.
E Sereia sempre ficava ali, apoiada no balcão e parecendo apenas mais uma das garotas do local, com a diferença que ela era mais linda que o mundo e que ninguém chegava perto para perguntar o preço com exceção de estrangeiros desavisados que voltavam para suas terras com as mãos nas bolas e um sorriso menos exuberante. Mas naquele dia ela não aguentou e foi falar com ele.

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