20110610

retrato de uma sombra

a eterna fragilidade do homem conversou comigo e me disse que caso eu crescesse poderia viver. não sabia como reagir isso, eu, eu um homem de meias rasgadas por pura vaziez. talvez num gole mais profundo eu pudesse ter reagido melhor mas a minha reação foi patética por não ser patética o suficiente, não gargalhei nem gaguejei, não fiquei congelado no tempo como um homem sem país, apenas disse que não sabia o que fazer e não recebi resposta. só fiquei sozinho. mas é difícil ficar sozinho por tanto tempo, e logo pensei na morte de meu pai e em todas as pessoas que já magoei e nos mendigos para quem já menti, sempre sem remorso, nos amigos que já roubei e nas mulheres que eu deixei de tocar por arrogância, nunca por pena ou respeito, sentindo o tempo todo na palma de minha mão uma espécie de fogo frio que era invisível só a mim. não obtive resposta alguma e logo precisaria voltar ao trabalho e continuar vivendo, e então percebi que aquilo devia ser uma exceção, a exceção. pensei em muitos jogos cujas regras não consegui entender e entendi que não era mais uma questão de querer mas sim de precisar. eu nunca passei fome e ainda assim gemi, e os meus problemas engoliram o mundo. eu não vivi mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário