20100510

PIRULITO é o melhor doce que há.

Eu era pequeno quando, estando em viagem à Portugal, visitamos um abrigo de velhinhos (eu mais meu irmão). Era coisa de fazer visita a algum amigo antigo de nossos avós que lá estava internado, não lembro bem - tenho a impressão, contudo, que foi ao falar da visita a ser feita ao tal amigo que eu ouvi de minha avó pela primeiríssima vez a expressão "dormir com as galinhas". Tenho também na memória a sensação de desconforto que se aportava em mim nessas visitas, sinal, analiso hoje, dos tempos finais da infância que se aproximavam (outro seria minha discussão algo acalorada em defesa de uma escultura abstrata, em prol de um conceito ainda incerto de "arte"). Mais forte que todas essas lembranças, até mesmo mais forte do que o cheiro de velhice que tinha o lugar, fica a de uma senhora (alheia, se não me engano, ao círculo de minha família) muito simpática que nos achava muito educados e nos dava pirulitos de cereja.

Eis: aquele sabor de cereja que não era o mesmo dos confeitos brasileiros, um sabor do qual me lembro muito bem e ao qual associo, muito mais que ao dito "sabor de infância", à experiência de visitar uma terra estrangeira. Algo de aventura, quem sabe, esse lançar-se num desconhecido vertiginoso, omnipresente - embriagante, até. É certo que eu estava, na ocasião daquela viagem, bem escorado pelos meus avós, e também em terra isófona (mas por pouco que não, diga-se de passagem). Não sei se isso importava muito.

Lembro-me de bem poucas coisas daquela viagem; das histórias mais famosas, como o "incidente da sopa de agrião" ou de quando eu sumi da vista de meus avós em uma pequena aldeia e reapareci munido de um graveto, riscando o chão com gestos até hoje imitados pela minha avó quando ela narra a ocasião, trago lembranças vagas de que ocorreram - às vezes, tão isenta de detalhes que fica a suspeita de que me lembro apenas de ouvir-contar.

Sobreviveu na minha cabeça aquele sabor artificial de cereja.

É cada coisa idiota que a gente repara quando é criança...

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