20100509

A jornada do Barãozinho

Ele era um barão tão pequenininho que se chamava Barãozinho - mas sem rir, porque magoar os outros é feio! Andava por aí em um cavalo que era menor que um pônei, quase uma lagartixa, e espetava as empregadas da fortaleza com sua espadazinha gritando "AYÔ SILVER, ÊIA RALÉ", e elas respondiam com palmadas astutas pra educar o pobre nobrezinho. Antes que o malentendido paire sobre todos nós, que fique claro: não era criança, o Barãozinho - já passava dos 30, mas, ainda assim, da mesma maneira que o Anticristo, não parecia crescer - o tempo passava e continuava minúsculo, ainda que um pouco barbudo e suscetível a ereções contínuas.

Certo solstício (pois na terra do Barãozinho, os solstícios eram tão comuns quanto as feiras - e todo mundo sempre dançava um monte, e comia muito doce), nosso pequeno herói fugiu do castelo - passou pelo buraco na grade como um pinto ensebado - e, antes que qualquer uma das babás - bêbadas e já sem calcinhas - percebesse, sumiu na floresta. Floresta essa que... Digamos que era uma floresta normal, pois todas as florestas das quais já ouvimos falar são tenebrosas, encantadas apenas no pior sentido da palavra.

Passados poucos minutos, Barãozinho já estava perdido - o único rastro que poderia seguir para sair da floresta era o de seu ralo esperma, deixado para trás, mas este já tinha sido consumido por pobres passarinhos de apetite duvidoso. Desesperado, o protagonista, pensando já em começar a gritar e xingar, começou a ouvir uma canção lamuriosa, toda em tom menor, de agudos um pouco desafinados e aparentemente acompanhada por uma harpa que, ao mesmo tempo, parecia ser a mesma coisa que a voz. Não entendia-se direito as palavras, só o sentido - água, mergulho, fundo.

O Barãozinho, sem escolha, seguiu os sons mezzo angelicais mezzo cretáceos, agora pela primeira vez andando com ímpeto e objetivo pela mata afiada. Após dezenas de árvores ameaçadoras, com mariposas que pareciam olhos pousadas em seus galhos, chegou a uma lagoa que era quase uma poça, localizada no meio de uma clareira bastante artificial. O enfant terrible (não-literalmente), no entanto, lia pouquíssimo e prestava menos atenção ainda nas histórias que as lavadeiras contavam entre uma novela e outra, e, portanto, não soube perceber armadilha nenhuma naquele fortuito pedaço d'água. Com a música ecoando forte em sua cabecinha, o Barãozinho, espadinha em punho, mergulhou de cabeça na poça - aqui vamos nós!

Aí não se sabe. Alguns dizem que o que conto agora aconteceu, outros dizem que é apenas o delírio do pobre Barãozinho, em coma após a concussão que mergulhar em tão raso lago certamente causaria, mas enfim: le petit chevalier, pois seu reino era de origem franca, assim que tocou a água (anormalmente lisa), deixou para sempre sua terrinha e, instantaneamente, surgiu em outro mundo - um (discutivelmente) bastante mais avançado, sem tempo a perder indulgindo um barãozinho, muito ocupado com uma crise financeira, futebol e orgias a esconder.

Ao se ver em uma rua movimentada, tomada por bestas metálicas gritadoras, o pequeno homem berrou e desmaiou. Ao acordar e perceber as construções imensas que bloqueavam o céu, desmaiou novamente. Mais uma vez acordou e, percebendo que estava sendo pouco efetivo, começou a gritar, apenas - ao que foi ignorado por todos os passantes, menos um, que o chutou, e então continuou passando.


Choroso, o barãozinho cambaleou por aí, passando por becos fedidos, procurando alguma obediência para uma pequena aberração malcriada. Foi quando acariciava seu pipizinho ao lado de uma lata de lixo que conheceu seu salvador - um homem não muito mais velho que o heróizinho (mas de tamanho e aparência normais, até onde se pode chamar um degenerado bexiguento de normal) que, sorte das sortes, adorava pequeninos e estava no show-business.


O barãozinho, então, que, mesmo sendo um pouco débil para sua idade, era muito mais eloquente (para não dizer barulhento) do que as crianças de seu peso e tamanho, além de possuir uma aparência inexplicavelmente inusitada, roupas engraçadinhas e alguma habilidade ao manusear sua ridícula espadinha, se tornou estrela - aparecia todos os dias em apresentações fechadas para homens com gostos esquisitos e reprováveis, que o apertavam com mãos sujas e engorduradas, e executava passos de dança estranhos em cima de uma esteira acelerada para que mulheres com instintos maternais desaguçados pudessem rir. Era tudo estranho, mas prestavam atenção nele, e à noite o barãozinho dormia abraçado com seu empresário-salvador, o que era bom, porque não estava acostumado a dormir sem ter nenhuma servente por perto, e precisava de alguém pra apertar de vez em quando.

6 comentários:

  1. http://republicadoscabacos.blogspot.com/2008/12/menina-lcia-to-cheirosa-12-anos.html

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  2. Isso tava encubado há um tempo, não? Ou você sonhou com isso ou já tinha escrito?

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  3. sinceramente, ouvi a volta do malandro e barão ficou na minha cabeça - samba de uma nota só, instantâneo.

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  4. NÃO MEXA COM AS POMBA GIRA DO LODO, PIRIGOSA!

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