20090221

Vida e obra de Andréia "Patsy" Vilermierskaia

Jogando os chocolates com força nas coxas e rasgando as roupas de Mateus, Andréia viveu até vinte e dois anos. Dos vinte e cinco aos trinta e um (entre 22 e 25 houve uma pausa forçada), recitou e.e. cummings para os faxineiros e foi chamada de elitista pela síndica Dora. Quando, durante quatro meses em 1993 (portanto, aos trinta e cinco), depois de visitas semanais complementadas por peças de Maiakovski, Dora se tornou Dorinha, Andréia virou genial pra burro. Resolveu ela mesma escrever um poema aos cinqüenta anos e fez de tudo para morrer como conseqüência da condição maldita do escritor; Mateus lhe deu um tapa, foi-se embora e ela se viu ainda mais saudável.

Entre sessenta e setenta, retomou o hábito dos chocolates, suspirando a cada Chokito pelo poema tuberculoso que lhe faltara. Com 74, confiando em sua sina amaldiçoada, preencheu páginas e páginas com


O PASSAGEIRO

INSTANTE
DO PASSA GEIRO


PASSA, GENTE, PASSA
FOSTE Belo
sequóia és. ramo brotinho salada de chuchu e pavê holandês

ai, que me dói o coração
sentir esse calor
quando com esse fulgor
faço anotação
caramanchão, meu pão!

Descobriu que era péssima depois do veredicto de Dorinha. Quis morrer e não se foi, “oh, crueldade do Destino” foi o que pronunciou no ano novo de 2039. Aprendeu a assobiar e estudou plantas diversas. Morreu em visita à Dinamarca, de causas desconhecidas, sem completar a nova coleção Grandes Clássicos Folha de S. Paulo, aos oitenta e seis anos.

Um comentário:

  1. Revendo, com o devido distanciamento histórico, sou forçado a reconhecer o nosso engano e declaro, assim, que aqui está uma das PÉROLAS IMORTAIS de nossa República.

    ResponderExcluir