No meu primeiro dia na faculdade,
no trote, ainda, eu vi uma menina um pouco mais bonita que a média. Nenhuma
beldade, claro, era um curso de engenharia, afinal (não, estou sendo maldoso),
mas uma menina e bonita e na época era o que me bastava. Foi minha primeira
paixonite na faculdade e, por 5 anos, eu nunca sequer falei oi pra ela. Por
algum tempo eu cheguei a saber o nome dela, pelo menos, mas agora já nem isso.
***
Acordou sem os olhos.
De alguma forma, o sabia, ainda que nada lhe doesse. Obviamente que não
enxergava, mas daí não se pode depreender tão facilmente que os olhos se foram,
e disso são prova todos os cegos do mundo, exceto, claro, aqueles desprovidos
de olhos.
Que teria se passado?
Não podia ser que alguém lhos tivesse arrancado, simplesmente, enquanto dormia.
Podia? Tinha o sono pesado, talvez pudesse. Talvez alguém tivesse invadido a
casa na calada e, na falta de bens de maior valor e diante dos entraves todos
ao furto de rins -- a presença de carne e pele que os cobrem, a ausência na
casa de gelo e de uma banheira --, roubado um par de olhos.
Fazia até algum
sentido. Se fosse roubar um olho, Gil também optaria por levar o outro, até
porque olhos de pessoas diferentes raramente combinam entre si. Devia ser isso,
portanto. Levantou-se. Tateou seu caminho até a porta. Agora, tinha que decidir
o que fazer.
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