20110905

Dois trechos encontrados em um txt esquecido


No meu primeiro dia na faculdade, no trote, ainda, eu vi uma menina um pouco mais bonita que a média. Nenhuma beldade, claro, era um curso de engenharia, afinal (não, estou sendo maldoso), mas uma menina e bonita e na época era o que me bastava. Foi minha primeira paixonite na faculdade e, por 5 anos, eu nunca sequer falei oi pra ela. Por algum tempo eu cheguei a saber o nome dela, pelo menos, mas agora já nem isso.




 ***




Acordou sem os olhos. De alguma forma, o sabia, ainda que nada lhe doesse. Obviamente que não enxergava, mas daí não se pode depreender tão facilmente que os olhos se foram, e disso são prova todos os cegos do mundo, exceto, claro, aqueles desprovidos de olhos.
Que teria se passado? Não podia ser que alguém lhos tivesse arrancado, simplesmente, enquanto dormia. Podia? Tinha o sono pesado, talvez pudesse. Talvez alguém tivesse invadido a casa na calada e, na falta de bens de maior valor e diante dos entraves todos ao furto de rins -- a presença de carne e pele que os cobrem, a ausência na casa de gelo e de uma banheira --, roubado um par de olhos.
Fazia até algum sentido. Se fosse roubar um olho, Gil também optaria por levar o outro, até porque olhos de pessoas diferentes raramente combinam entre si. Devia ser isso, portanto. Levantou-se. Tateou seu caminho até a porta. Agora, tinha que decidir o que fazer.

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