Samuel Matias era um sujeito de não muito mais que um metro e meio e com o peso aproximado de um cachorro de médio porte, mas quando ele carregava dezenas de toneladas de chumbo incandescente por sobre pequenos vilarejos do sudeste asiático, despejando-os eventualmente sobre um ou outro povoado, ninguém o diria. Ele sentia algum prazer, é claro, em ver as famílias correndo desesperada e inultilmente para fora do trajeto de seu boing preto, divertindo-se em atingir sempre aqueles que mais lhe chamavam a atenção na multidão, mas não se deixe enganar: havia muito pouco de lúdico em seu trabalho e, na verdade, tratava-se de serviço oficial e aparentemente de suma importância, embora ele nunca houvesse entendido quais os motivos exatos que levaram o governo norte-coreano a contratar um brasileiro para atirar metal quente sobre vilarejos aleatórios (pois ele tinha total discricionariedade em escolher aqueles que mais lhe aprazessem) do referido sudeste asiático. A ignorância é uma bênção, ele costumava dizer, em meio a seus rasantes flamejantes.
Em 1997, o sultão Hassanal Bolkiah, de Brunei, foi eleito o homem mais rico do mundo, superando o americano Bill Gates em patrimônio e em cuidado com o cavanhaque — que era podado meticulosamente por, presume-se, um grupo de funcionárias especificamente contratadas para este fim. A despeito das muitas críticas às suas prioridades, vindas de gente que argumentava que Gates nem sequer possuía um cavanhaque, o sultão seguia bem com sua coleção de automóveis, aviões e descaso para com a situação dos habitantes de seu sultanato.
Nessa época, vivia naquelas terras a jovem Najibah, que compensava as feições modestas com a dedicação dobrada no trabalho (dedicava-se ao cultivo de variados grãos) e no cuidado com a família. Najibah tinha poucos motivos para crer, mas jamais questionara sua fé na fortuna trazida pelos céus, ao menos até o dia em que deles vieram as gotas ferventes de metal derretido, despejadas sem aviso por um distante avião negro. Enquanto sua perna esquerda era consumida pelo calor vulcânico, Najibah pensou ter ouvido um riso ao longe. Ela, que nunca havia questionado a razão de suas mazelas e dificuldades, diante de tão deliberado ato de crueldade, jurou encontrar uma justificativa.
Em 1997, o sultão Hassanal Bolkiah, de Brunei, foi eleito o homem mais rico do mundo, superando o americano Bill Gates em patrimônio e em cuidado com o cavanhaque — que era podado meticulosamente por, presume-se, um grupo de funcionárias especificamente contratadas para este fim. A despeito das muitas críticas às suas prioridades, vindas de gente que argumentava que Gates nem sequer possuía um cavanhaque, o sultão seguia bem com sua coleção de automóveis, aviões e descaso para com a situação dos habitantes de seu sultanato.
Nessa época, vivia naquelas terras a jovem Najibah, que compensava as feições modestas com a dedicação dobrada no trabalho (dedicava-se ao cultivo de variados grãos) e no cuidado com a família. Najibah tinha poucos motivos para crer, mas jamais questionara sua fé na fortuna trazida pelos céus, ao menos até o dia em que deles vieram as gotas ferventes de metal derretido, despejadas sem aviso por um distante avião negro. Enquanto sua perna esquerda era consumida pelo calor vulcânico, Najibah pensou ter ouvido um riso ao longe. Ela, que nunca havia questionado a razão de suas mazelas e dificuldades, diante de tão deliberado ato de crueldade, jurou encontrar uma justificativa.
E, mais importante, vingança.
dois pontos no universo unidos pra todo o sempre por um infinito de fatalidades absurdas.
ResponderExcluirAHN
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