20101019

História sem glória

Ninguém se lembra de Eomar Riss. Ninguém esperou por ele no cais. Ficou lá ele e ninguém mais. Ninguém quis pegar-lhe as malas, levar-lhe às salas, ouvir-lhe as máguas - e foram tantas águas, enchentes e serpentes, tanto rio que ele cruzou e quando o navio aportou (no cais), ficou lá ele e ninguém mais. Nem os jovens (porque viris) que vinham, quase servis, prestar às madames de lis serviços em troca de gis... Nem eles, que vis!, lembraram-se de Eomar Riss. Não lhe ofereceram os braços pobres para, em troca duns cobres, fazerem-se nobres, levarem-lhe os coldres, as malas e roupas e chamarem-lhe jovem.

O velho, que era, sequer ficou à espera, tomou logo a bagagem e sem titubeagem, seguiu pela trilha que levava pra vila. Era um caminho comprido e seu corpo torcido não aguentou sem gemido o exercício exigido. Teve que parar. Arfar. E então, ali mesmo na estrada, envolto de mata, de meio de nada, sem ter caduceu, Eomar Riss, sem mais nem menos, morreu.

Era primavera e há algo de triste na morte de um homem que sequer existe, mas podia existir, como tantos -- que vivem suas vidas de guerreiros ou santos e ganham as lutas ou choram os prantos e morrem depois, sozinhos nuns cantos.

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