20110318

Acho um desserviço

Foi o Hiro, acho, quem falou de como o livro é idolatrado no Brasil (não querendo dizer, me parece, que seja assim só aqui, mas é assim, aqui). Parece uma burrice enorme, afinal, Brasil, ninguém lê etc, mas olha: leia alguma coisa no ônibus - o bom é que pode ser qualquer coisa, porque ninguém vai diferenciar o Saramago d'O Diário d'um Mago, mesmo, então tanto faz - e preste atenção.
As pessoas não encostam muito, algumas olham meio de assim. Um livro! Logo aqui, do meu lado nesse ônibus, foi aparecer um destes! E mais: com uma pessoa lendo! É meio isso, uma deferência, assim.
Bom, vá lá que ler um livro (quero dizer, num ônibus, com nosso asfalto sofrido) seja mais difícil que enfiar dois plugues nas orelhas, mas de verdade, mesmo, por que um cara lendo seria "melhor" que o outro ouvindo música em mp3 no celular? Ou até (pra fugir das artes) que aquele cara ali, olhando pela janela, vendo a cidade, as pessoas, talvez até (loucura!) pensando? Eu posto aqui e sei que vocês, assim, não vão cair fácil, mas pergunte isso por aí, vejam só quantos absurdos ouvimos em nome da cultura, da educação, da (pasmem!) literatura.
Fora as campanhas de incentivo à leitura. Sempre a lenga-lenga do quanto se aprende, como se ler fosse intrinsicamente bom, como se pegar em qualquer livro já desse assim um choque de conhecimentos emocionantes. Não é à toa que ninguém leia! É como nas propagandas de internet - a sorte desta é que não precisa delas pra se vender, porque se dependesse da perspectiva de fazer lições de casa maravilhosas, que vazio seria o msn. Aguardem só, logo chegaremos ao ponto de ter que colocar um livro com cuidado nas mãos das crianças e repetir em tom tranquilizador: calma, é só papel, viu? Você escreve o que quiser nele.

5 comentários:

  1. É que nem a campanha "QUER O TROCO EM BALA?" de filmes piratas.

    E aliás: senti-me REI quando, ao me me levantar de uma leitura no ônibus e dirigir-me à porta, fui abordado por uma mulher que perguntou o título e, depois de ouvir a resposta, sorriu: "É da Cosac, né?!"

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  2. Eu acho que não saquei direito o ponto.

    Em tempo, acho insuportável ler no ônibus, porque fico enjoado.

    PS: Quando eu fiz cursinho, teve uma palestra lá que o cara defendia que se você gastasse todo o seu tempo livre lendo - e aí valia qualquer livro, sem distinção: o que importava era ser papel e palavras impressas - você virava um gênio ou qualquer coisa assim.

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  3. Enjôo no onibus é coisa de F-R-U-T-A (com todo o respeito, eu mesmo conheço frutas e até sou amigo de algumas).

    Achei bonita a distopia da criança, mas meio veja-de-são-paulo demais pra mim.

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  4. Esses seus amigos... E se, ao invés de frutas, fossem odiadores de judeus?

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