Da segunda vem que o Rapaz apareceu no meu caminho, isso foi uns três dias depois e mais ou menos na mesma região, admito que meu coração se apertou um pouquinho e eu não resisti, cheguei e a ele e lhe disse "oh, Rapaz, que parece tão perdido e faminto, veja que sou de bem e não lhe quero mal algum e por isso lhe convido: vou beliscar uns provolones e bebericar alguma coisa qualquer ali na próxima rua e queria muito sua companhia, pois que pretendo fumar enquanto belisco e beberico e detesto fumar sozinho - que me diz?". O Rapaz aceitou de bom-grado e logo que nos instalamos tirou de seu colete cheio de bolsinhos alguns aparatos que me pareceram extremamente misteriosos. Enquanto o balconista botava na nossa frente o pratinho com os provolones boiando em óleo temperado, os palitos de dente e dois cálices gelados de steinhaeger, o Rapaz abriu uma caixinha aqui, outra ali, repetiu alguns gestos e por fim tirou daquela operação toda dois cigarros perfeitamente enrolados. Assombrado, peguei por meu o que estava mais próximo de mim, ele o acendeu em meus lábios e passamos a fumar enquanto beliscávamos as bolinhas de queijo e bicávamos nossos cálices. Minha vergonha era grande demais para lhe perguntar o que exatamente eram aquelas coisas todas e como era ele capaz de produzir tabaco de tamanha qualidade com aquela rapidez, mas não foi preciso - uma vez dadas as primeiras baforadas, o Rapaz começou a me contar sua história.
Ele era um jovem talento do violino e saiu de sua cidade natal, onde era reverenciado por todos como filho-prodígio daquela terra tristonha, em busca de seu maior sonho. Isso ele não me disse, ou, se disse, o destilado alemão prontamente me apagou da mente.
É esperado que eu lhes diga que não me lembro como cheguei ao pequeno apartamento dele, mas aqui eu tiro minha carta da manga: me lembro de tudo, com perfeição! De como nossa conta foi gentilmente encerrada e seguimos em frente na rua da Liberdade, virando à esquerda na Joaquim Iago e pegamos a terceira à direita, depois da Praça Ípiro, e subimos no prédio verde da esquina entre a Filipina e a Guarda Florestal. Como podem ver, o álcool passa por meu corpo de maneira estupendamente rápida quando ingiro qualquer quantidade de gordura temperada.
Lá dentro, enquanto fumávamos outro de seus incríveis cigarrinhos, o Rapaz me mostrou um jogo de cartas absolutamente incompreensível, acho que dizia se chamar Labuta ou então Fagote (nem mesmo o nome parecia ter sentido, de modo que eu não fui capaz de retê-lo na memória). Jogamos e rimos a noite inteira, até que eu cai no sono com a cabeça apoiada num batente carcomido. Sonhei com coelhos, com Irene e com uma escola muito-muito grande, mas exatamente como isso tudo se articulava me escapa da razão até hoje.
O dia seguinte me pegou desprevenido, como se diz: com a calça nos pés - não literalmente, óbvio, já que eu nunca levo minhas calças abaixo sem ser em meu próprio quarto ou banheiro. O Rapaz tinha ido embora, mas deixara um bilhete simpático, em que dizia ter ido comprar breu para o violino e depois se apresentar em exame no Conservatório Prad, e também um prato com ovos frios. Aquilo me embrulhou o estômago, pela simples lembrança de que Irene teria adorado comer aqueles ovos com o pão preto que sua mãe fazia aos sábados...
Virei as costas e deixei o apartamento, perturbado com aquela nostalgia toda. Quem sabe, algum miasma do meu sonho permanecesse ao redor de minha cabeça, precisava ventilar o couro cabeludo com urgência! Foi assim que cheguei em casa, meia hora de passo rápido (quase um trote, na verdade) depois: enxarcado de suor, com olheiras do tamanho de pires e sem as minhas chaves.
Ele era um jovem talento do violino e saiu de sua cidade natal, onde era reverenciado por todos como filho-prodígio daquela terra tristonha, em busca de seu maior sonho. Isso ele não me disse, ou, se disse, o destilado alemão prontamente me apagou da mente.
É esperado que eu lhes diga que não me lembro como cheguei ao pequeno apartamento dele, mas aqui eu tiro minha carta da manga: me lembro de tudo, com perfeição! De como nossa conta foi gentilmente encerrada e seguimos em frente na rua da Liberdade, virando à esquerda na Joaquim Iago e pegamos a terceira à direita, depois da Praça Ípiro, e subimos no prédio verde da esquina entre a Filipina e a Guarda Florestal. Como podem ver, o álcool passa por meu corpo de maneira estupendamente rápida quando ingiro qualquer quantidade de gordura temperada.
Lá dentro, enquanto fumávamos outro de seus incríveis cigarrinhos, o Rapaz me mostrou um jogo de cartas absolutamente incompreensível, acho que dizia se chamar Labuta ou então Fagote (nem mesmo o nome parecia ter sentido, de modo que eu não fui capaz de retê-lo na memória). Jogamos e rimos a noite inteira, até que eu cai no sono com a cabeça apoiada num batente carcomido. Sonhei com coelhos, com Irene e com uma escola muito-muito grande, mas exatamente como isso tudo se articulava me escapa da razão até hoje.
O dia seguinte me pegou desprevenido, como se diz: com a calça nos pés - não literalmente, óbvio, já que eu nunca levo minhas calças abaixo sem ser em meu próprio quarto ou banheiro. O Rapaz tinha ido embora, mas deixara um bilhete simpático, em que dizia ter ido comprar breu para o violino e depois se apresentar em exame no Conservatório Prad, e também um prato com ovos frios. Aquilo me embrulhou o estômago, pela simples lembrança de que Irene teria adorado comer aqueles ovos com o pão preto que sua mãe fazia aos sábados...
Virei as costas e deixei o apartamento, perturbado com aquela nostalgia toda. Quem sabe, algum miasma do meu sonho permanecesse ao redor de minha cabeça, precisava ventilar o couro cabeludo com urgência! Foi assim que cheguei em casa, meia hora de passo rápido (quase um trote, na verdade) depois: enxarcado de suor, com olheiras do tamanho de pires e sem as minhas chaves.
Gostei de tudo, cara. Tudo.
ResponderExcluirSe é assim, não gosto muito do título.
ResponderExcluirMAS:
"ele o acendeu em meus lábios e passamos a fumar enquanto beliscávamos as bolinhas de queijo e bicávamos nossos cálices".
Cara, você devia escrever contos eróticos.