“(...) a opressão impõe ao dominado limitações que vão além do espectro político (tanto a negação democrática mais direta quanto a manipulação ideológica definida pelos exemplos dominantes) e do óbvio alijamento que se dá pela influência esmagadora da cultura opressora – a condição de oprimido, até mesmo quando autoconsciente, é uma prisão exclusivista : o dominado se descobre dominado e passa a se definir por isso – é apenas oprimido, sua personalidade sendo suprimida ante um traço tão forte – e isso se reflete na arte “rebelde” dos dominados, sempre preocupada com sua condição, sempre voltada para si mesma em um solipsismo preocupante, sempre nervosamente ciente de sua situação desfavorável, nunca capaz da leveza (irresponsável, burguesa, alegre) inconsequente da arte dominante. Os oprimidos somos incapazes de sorrir.” Paulo Emílio Salles Gomes in “Êxodo”
nunca na vida eu queria ser assim um moço pequeno e aleijado, não mesmo, queria ter perna-de-pau e ser pinóquio crescido, voando, elementar que nem carbono, fonte, fui passando pelo beco com os dedos cobertos de melaço - me chamo juca, sou esperto, pego duas moças pelo preço de uma; gêmeas, uma não sabe quem é a outra, escapo-já em tumtumtá - acusando crime: LADRÃO, assassino!, enfiei o braço na botija mas não sabia que tudo ficava tão feio, achei que era só uma moça-estátua-recipiente-de-felicidade, enfarto não é minha culpa...
CORO:
Veja só
o menino
que fugiu
da escola!
Pé-de-pato
sorridente
morre logo,
joga bola!
E Juca, agora, sem chance alguma de escapar - uma vida inteira de marginalidade resumida em um instante, decisivo, clássico, definidor, autocontido - fractal (um conceito que não sabemos entender; chegamos no máximo até a teoria dos fluidos ilustrada pelo carrossel holandês, no máximo, e a polícia cabisbaixa cercando o prédio olhando no relógio, 15h25, o Robinho já deve tar na quinta marcha, e aqui... Ele não existe mais, é só arquétipo e, droga, pera) agora sim, ele não existe mais, acuado em um barraco (se fosse desenvolvido (entre aspas, já que detroit ACABOU, ouviu, A-CA-BOU, a queda do império, agora só vivem ratos e astrólogos lá) seria uma fábrica abandonada - símbolo do quê, exatamente?, não sei) com uma bazuca, isso mesmo, BAZUCA nas mãos, ameaçando estourar tudo se não deixam sair, a rua vazia, ninguém
e aí, bumpaticurungudum, um salto temporal - o capitão major tenente olha o relógio e, nããããão!!!!, 17h40 já, uma gritalhada danada, na rua uma escola de samba chamada POVO, explodindo, balançando, logo Juca já sumiu, colorido, e vai votar esse ano, jájá todo mundo vota, eu sou assim, aqui, sambote, ê-ô-ê, eu
Queria falar sobre o que não bate mais no meu peito e o medo de
não, preciso explicar porque pensar numa solução já é
agora, só agora, murmuro sobre os gatos e as suas caudas
meu deus do céu eu
Os detetives John e Adolph nunca encontraram ninguém; "isso é passado, garoto, poeira de sonho" ----- não,!, num deserto sacando uma pistola e matando Cai-Sentado com fumaça mas não tem, não, eu ----- cambalhotando com voz-em-tudo rindo, Eu gosshtow dee voucêee, nossas mulheres, não, fiquem!!, fugindo pro abrigo agora
JOÃO: VEM VAGABUNDA
ELA: SUA.
beijo, sem pôr-do-sol.
NÃO DÁ MAIS, explodindo (mas não, explodir não é meu, não, pulando)
Juca segue dançando, ô danado, êêê.
20100617
variação em fagote
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