Fazer sucesso, segundo a cartilha de Lulu Santos, é estar no palco e ter na frente 30 mil pessoas cantando, em êxtase, uma música que ele fez sozinho no silêncio do quarto. Também vale se forem 300 mil.
Os tempos mudaram um tanto desde sua estreia, em 1982. Mas transformar o ato solitário em catarse coletiva ainda é o maior objetivo do cantor hoje, aos 57 anos, no recém-lançado "Singular", seu 22º álbum.
"Sou feito em pop", diz. "Sou formado nisso, minha escola é a do sucesso. E essa não é a frequência do artista sofredor, mas do artista realizado."
Por isso ele continua a disfarçar letras melancólicas em melodias ensolaradas, como no samba à paulista "Procedimento". "É aquilo de pensar triste e cantar alegre", diz. ""Assim Caminha a Humanidade" é um clássico disso. É uma história de separação, mas pessoas dançam numa alegria alucinada."
Desta vez, a fórmula de que faz uso junta, em medida parecida, dois ingredientes básicos: o samba e a música eletrônica. Não é a primeira incursão de Lulu na alquimia entre esses gêneros, mas é certamente a mais radical delas -principalmente nas faixas instrumentais que abrem e fecham o disco.
"Outro dia, li que, há 15 anos, a Nação Zumbi descobriu uma estética para juntar naturalmente essas duas coisas", conta. "Acho isso muito louvável, mas, há 25, fiz um disco chamado "Popsambalanço e Outras Levadas" que já propunha exatamente o mesmo. Seria bom se isso fosse lembrado."
O autor descreve as duas faixas sem letra como manifestações de sua "relação de amor e ódio com o samba". "Elas revelam tanto o fascínio quanto uma espécie de impaciência."
Mais impaciência ainda Lulu dedica hoje ao rock -gênero a que, por ter surgido na efervescência da geração 80, ele é muitas vezes associado. Mais ainda por ser um dos fundadores do Vímana, lendária banda de rock progressivo.
"Estou o menos rock n'roll possível. O rock é um engano, um erro que lesa a humanidade", diz. "Ele se tornou uma linguagem de exclusão, num processo narcisista e branco parecido com a ideia facistóide desses grupos que usam gótico."
Segundo seu raciocínio, o rock roubou a linguagem original do rhythm and blues, música de diversão para quem tinha uma vida ruim e precisava dela para ser resgatado.
"Rock é para gente normal, formatada, classe média e sem surpresa que procura um tipo de vertigem, como se aquela música mostrasse o lado escuro da alma da pessoa", diz. "Mas isso é uma fantasia mitificada por gente que paga US$ 40 mil por dia em psiquiatra."
Lulu considera que, de Elvis a Fresno, dos Beatles ao Menudo, a música pop do século 20 é "necessidade básica hormonal feminina". São as calças apertadas que realmente importam.
"Atualmente, escapo desse hormonalismo porque não estou mais me oferecendo como uma possibilidade. Mas já fui "o ídolo da juventude", fazendo caras e bocas com minha calça igualmente apertada", diz. "É um pouco doloroso esse processo de me reentender."
fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2112200914.htm
20091221
Santos/Koor: Brôus?, Simbiose Cósmica? Plágio Brasileiro?
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Doloroso mesmo deviam ser as calças.
ResponderExcluirEle usa muito bem os números, gosto disso. Não ouvi ainda, mas torço por melhoras.
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