Felipe era um dragão muito feliz. Mas ele andava cabisbaixo nos dias anteriores à sua Festa da Cornucópia (em que ele ganharia seus chifres definitivos, esmaltados) porque sua barriga roxa-roxa andava meio esverdeada.
- É o cocô, Felipe?
- Não, acho que é mais os gases!
Na fase da vida em que Felipe se encontrava, alterações no corpo eram esperadas, mas não assim com essa velocidade toda. Imaginem! O intestino começando a funcionar direito (e por isso a barriga ficando meio esverdeada durante alguns dias) e a Festa da Cornucópia, tudo na mesma semana. Não era por pouco que Felipe andava atordoado!
Mas na véspera da Festa ele encontrou um sábio tartarugo-enciclopédico que de vez em quando aparecia nas redondezas para estimular todos com seus infinitos conhecimentos. Felipe se aprumou para tentar conseguir algum conselho do tão respeitado visitante, já que há momentos na vida em que tudo o que precisamos é de alguma explicação pelo menos aparentemente racional para tudo que acontece.
- Tartarugo-enciclopédico, tira-me a dúvida! – gritava um gordo,
- Eu vou ser sempre pequeno?! – perguntava o porquinho-da-índia;
- Por que nunca os meus cílios crescem como eu quero? – choramingou a dragonina Odete.
E eis que era um dia estranho para o tartarugo-enciclopédico. Sem dúvida ele apresentara-se ao vilarejo para responder a quantas dúvidas pudessem ser respondidas em um dia, como era de praxe, mas a jornada o havia deixado muito cansado...
- Quedê o tartarugo?
- Está dentro de seu casco!
E não havia ninguém-ninguém que conseguisse tirar o tartarugo-enciclopédico de seu casco. Era um sono daqueles!
Felipe sentiu-se oprimido pelo mundo, com uma sensação muito ruim e vontade de chorar. É assim que nos sentimos quando tudo parece sem sentido e quando quem poderia nos dar a mão na verdade esconde-a atrás de mangas longas demais! O que ele poderia fazer? Perdendo um pouco a sua compostura natural, ele desabou-se sentando no chão, ali mesmo de costas para o casco do tartarugo-enciclopédico. Afinal, ele estava dentro do casco, não ia ver mesmo, não ia achar uma falta de respeito.
O gordo, a dragonita Odete, o porquinho-da-índia, o cigano e o mainá que estavam ali em volta acharam muito estranha a atitude de Felipe e reprovaram-na. Um disse que era coisa de pivete, outra que ele deveria ter vergonha, e só o cigano ficou calado. Felipe não agüentou e começou a chorar. Foi como uma chave girando-se para descarregar todas as aflições dessa semana!
Mas essa chave acabou liberando mais algumas coisas...ali sentado, Felipe fez um pum bem alto e cheiroso na frente do tartarugo-enciclopédico, que acordou reclamando e deu rapidinho dois passos para o lado. Só que o tartarugo sempre foi boa gente e, vendo a tristeza nos olhos de Felipe, logo o perdoou e disse que poderia perguntar o que quisesse.
Felipe se sentiu muito mais leve vendo uma alma boa e, recompondo-se, procurou lembrar o que queria perguntar para o tartarugo-enciclopédico naquela tarde. Mas antes parou para refletir sobre o acontecido e percebeu que foi graças às recentes mudanças de seu corpo que todos puderam novamente desfrutar da companhia do tartarugo-enciclopédico.
Riu-se sozinho, sentiu-se muito melhor e agradeceu o estimado visitante. Mas já não havia mais dúvidas: Felipe estava pronto para tornar-se gente grande.
20090706
A Preparação para a Festa da Cornucópia
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Patsy e suas crônicas de família²...
ResponderExcluirLindo, lindo demais.
gostei bastante, foi engraçado quando a tartaruga acordou com um pum ahahahahha
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