20100104

Crônica de uns anos novos

“A Praia Grande, no reveiôm, não dá.”
Eu não sei quantas vezes tinha ouvido aquela frase, na vida, naquela viagem. Três horas, já, no carro e ainda nada do pedágio. A Imigrantes parecendo via de evacuação da cidade; os paulistanos com sede de mar. Depois, o viaduto Mário Covas, que nem é tão grande assim, ficou horas na nossa visão e nada de o alcançarmos. Eram duas da manhã quando saí de casa para evitar o grosso do trânsito, mas o sol chegou antes de eu chegar.
E ó que lá já tinham chegado meia São Paulo, a metade pior. Música alta, barulho, quase, saindo dos porta-malas tunados dos carros parados na avenida da praia, barulho vindo dos bares, dos churrascos, das pessoas. Gente feia, também, pra todo lado. Isso aí é a Praia Grande no fim dos anos, o fim dos tempos.
Aí o alvoroço do preparar das coisas, o que tinha que cozinhar cozinhando, o que tinha que gelar gelando. Tudo o que é o dia 31 de dezembro de todos os anos. Nesse dia, acho, nem deu praia, tão cheia tava. Deu mais foi a varanda de frente pra orla, no sexto andar daquele prédio. Lembro meu avô ali (foi o último ano novo com ele, aliás. Depois, só os anos velhos).
Daí que mesmo com o dia todo pra isso, sempre tem aquela correria, que senão não tem graça. Teve lentilha, uva de pé (só as sete primeiras), romã, sei lá, todas essas coisas indispensáveis. Teve roupa branca e nova e depois dos fogos todo mundo desceu e foi pular as sete ondas, porque senão o ano não começa bem. Teve vela em barquinho de papel e Iemanjá, eu sei, abençoou. Teve a gente saindo do mar de ré, que é pra nunca dar as costas pra ela.
E teve essa foto de agora, a última que tiramos e a última que tiraremos com a família toda ali, todo mundo rindo. E a certeza expressada pela minha mãe com a taça na mão de que não tem no mundo lugar melhor pra virar o ano do que a PG.

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